PERSONALIDADES ASSINAM CARTA
ABERTA A PEDIR DEMISSÃO DE PASSOS
Paula Oliveira, com Sandra Antunes
Uma carta aberta encabeçada pelo ex-presidente da República Mário Soares pede a demissão do primeiro-ministro, Passos Coelho, por «embuste» e acusa o Governo de «fanatismo cego». A missiva, a que a TVI teve acesso, foi enviada a São Bento e entregue ao primeiro-ministro, com cópia para Cavaco Silva.
Personalidades políticas e de vários quadrantes da sociedade, num total de 78 nomes, admitem «ser seu dever retirar as consequências políticas que se impõem, apresentando a demissão ao Senhor Presidente da República».
Na carta pode ler-se que o Governo não pode invocar desconhecimento da situação do país, pois o memorando de entendimento com a troika já estava assinado quando se realizaram eleições, há um ano e meio.
«O Programa eleitoral sufragado pelos Portugueses e o Programa de Governo aprovado na Assembleia da República, foram em muito excedidos com a política que se passou a aplicar. As consequências das medidas não anunciadas têm um impacto gravíssimo sobre os Portugueses e há uma contradição, nunca antes vista, entre o que foi prometido e o que está a ser levado à prática».
Por essa razão, os signatário não têm dúvidas em considerar que «os eleitores foram intencionalmente defraudados» e que «nenhuma circunstância conjuntural pode justificar o embuste».
A carta dá conta de um «clamor» nacional «contra o Governo», mas mesmo assim «o Governo não hesita porém em afirmar, contra ventos e marés» que não irá ceder na austeridade.
«Ao embuste, sustentado no cumprimento cego da austeridade que empobrece o País e é levado a efeito a qualquer preço, soma-se o desmantelamento de funções essenciais do Estado e a alienação imponderada de empresas estratégicas, os cortes impiedosos nas pensões e nas reformas dos que descontaram para a Segurança Social uma vida inteira, confiando no Estado, as reduções dos salários que não poupam sequer os mais baixos, o incentivo à emigração, o crescimento do desemprego com níveis incomportáveis e a postura de seguidismo e capitulação à lógica neoliberal dos mercados».
Os signatários lamentam: «O Governo, num fanatismo cego que recusa a evidência, está a fazer caminhar o País para o abismo».
Face a um «Orçamento de Estado iníquo, injusto, socialmente condenável, que não será cumprido e que aprofundará em 2013 a recessão», os signatários desta carta consideram que «o crescente clamor que contra o Governo se ergue, como uma exigência, para que o Senhor Primeiro-Ministro altere, urgentemente, as opções políticas que vem seguindo, sob pena de, pelo interesse nacional, ser seu dever retirar as consequências políticas que se impõem, apresentando a demissão ao Senhor Presidente da República, poupando assim o País e os Portugueses ainda a mais graves e imprevisíveis consequências».
Além de Mário Soares, a carta leva a assinatura de personalidades como o arquiteto Álvaro Siza Vieira, o sociólogo Boaventura Sousa Santos, o sociólogo Bruto da Costa, o socialista Eduardo Ferro Rodrigues, o filósofo Eduardo Lourenço, o professor João Ferreira do Amaral, o historiador Fernando Rosas, o ex-ministro Manuel Maria Carrilho, o ex-sindicalista Carvalho da Silva, o jurista Vítor Ramalho, entre muitos outros.
Carta Aberta ao 1º. Ministro
Exmo.
Senhor Primeiro-Ministro,
Os
signatários estão muito preocupados com as consequências da política seguida
pelo Governo.
À
data das últimas eleições legislativas já estava em vigor o Memorando de
Entendimento com a Troika, de que foram também outorgantes os líderes dos dois
Partidos que hoje fazem parte da Coligação governamental.
O
País foi então inventariado à exaustão. Nenhum candidato à liderança do Governo
podia invocar desconhecimento sobre a situação existente. O Programa eleitoral
sufragado pelos Portugueses e o Programa de Governo aprovado na Assembleia da
República, foram em muito excedidos com a política que se passou a aplicar. As consequências
das medidas não anunciadas têm um impacto gravíssimo sobre os Portugueses e há
uma contradição, nunca antes vista, entre o que foi prometido e o que está a
ser levado à prática.
Os
eleitores foram intencionalmente defraudados. Nenhuma circunstância conjuntural
pode justificar o embuste.
Daí
também a rejeição que de norte a sul do País existe contra o Governo. O caso
não é para menos. Este clamor é fundamentado no interesse nacional e na
necessidade imperiosa de se recriar a esperança no futuro. O Governo não hesita
porém em afirmar, contra ventos e marés, que prosseguirá esta política - custe
o que custar - e até recusa qualquer ideia da renegociação do Memorando.
Ao
embuste, sustentado no cumprimento cego da austeridade que empobrece o País e é
levado a efeito a qualquer preço, soma-se o desmantelamento de funções essenciais
do Estado e a alienação imponderada de empresas estratégicas, os cortes
impiedosos nas pensões e nas reformas dos que descontaram para a Segurança
Social uma vida inteira, confiando no Estado, as reduções dos salários que não
poupam sequer os mais baixos, o incentivo à emigração, o crescimento do
desemprego com níveis incomportáveis e a postura de seguidismo e capitulação à lógica
neoliberal dos mercados.
Perdeu-se
toda e qualquer esperança.
No
meio deste vendaval, as previsões que o Governo tem apresentado quanto ao PIB,
ao emprego, ao consumo, ao investimento, ao défice, à dívida pública e ao mais
que se sabe, têm sido, porque erróneas, reiteradamente revista sem baixa.
O
Governo, num fanatismo cego que recusa a evidência, está a fazer caminhar o
País para o abismo.
A
recente aprovação de um Orçamento de Estado iníquo, injusto, socialmente
condenável, que não será cumprido e que aprofundará em 2013 a recessão, é de
uma enorme gravidade, para além de conter disposições de duvidosa constitucionalidade.
O agravamento incomportável da situação social, económica, financeira e
política, será uma realidade se não se puser termo à política seguida.
Perante
estes factos, os signatários interpretam - e justamente- o crescente clamor que
contra o Governo se ergue, como uma exigência, para que o Senhor
Primeiro-Ministro altere, urgentemente, as opções políticas que vem seguindo,
sob pena de, pelo interesse nacional, ser seu dever retirar as consequências
políticas que se impõem, apresentando a demissão ao Senhor Presidente da República,
poupando assim o País e os Portugueses ainda amais graves e imprevisíveis
consequências.
É
indispensável mudar de política para que os Portugueses retomem confiança e
esperança no futuro.
PS:
da presente os signatários darão conhecimento ao Senhor Presidente da
República.
Lisboa,
29 de Novembro de 2012
MÁRIO
SOARES
ADELINO
MALTEZ (Professor Universitário-Lisboa)
ALFREDO
BRUTO DA COSTA (Sociólogo)
ALICE
VIEIRA (Escritora)
ÁLVARO
SIZA VIEIRA (Arquitecto)
AMÉRICO
FIGUEIREDO (Médico)
ANA
PAULA ARNAUT (Professora Universitária-Coimbra)
ANA SOUSA DIAS (Jornalista)
ANDRÉ
LETRIA (Ilustrador)
ANTERO
RIBEIRO DA SILVA (Militar Reformado)
ANTÓNIO ARNAUT (Advogado)
ANTÓNIO
BAPTISTA BASTOS (Jornalista e Escritor)
ANTÓNIO
DIAS DA CUNHA (Empresário)
ANTÓNIO PIRES VELOSO (Militar Reformado)
ANTÓNIO REIS (Professor Universitário-Lisboa)
ARTUR
PITA ALVES (Militar reformado)
BOAVENTURA
SOUSA SANTOS (Professor Universitário-Coimbra)
CARLOS
ANDRÉ (Professor Universitário-Coimbra)
CARLOS
SÁ FURTADO (Professor Universitário-Coimbra)
CARLOS
TRINDADE (Sindicalista)
CESÁRIO
BORGA (Jornalista)
CIPRIANO
JUSTO (Médico)
CLARA
FERREIRA ALVES (Jornalista e Escritora)
CONSTANTINO
ALVES (Sacerdote)
CORÁLIA
VICENTE (Professora Universitária-Porto)
DANIEL
OLIVEIRA (Jornalista)
DUARTE
CORDEIRO (Deputado)
EDUARDO
FERRO RODRIGUES (Deputado)
EDUARDO
LOURENÇO (Professor Universitário)
EUGÉNIO
FERREIRA ALVES (Jornalista)
FERNANDO
GOMES (Sindicalista)
FERNANDO
ROSAS (Professor Universitário-Lisboa)
FERNANDO
TORDO (Músico)
FRANCISCO
SIMÕES (Escultor)
FREI
BENTO DOMINGUES (Teólogo)
HELENA
PINTO (Deputada)
HENRIQUE
BOTELHO (Médico)
INES
DE MEDEIROS (Deputada)
INÊS
PEDROSA (Escritora)
JAIME
RAMOS (Médico)
JOANA
AMARAL DIAS (Professora Universitária-Lisboa)
OÃO
CUTILEIRO (Escultor)
JOÃO
FERREIRA DO AMARAL (Professor Universitário-Lisboa)
JOÃO
GALAMBA (Deputado)
JOÃO
TORRES (Secretário-Geral da Juventude Socialista)
JOSÉ
BARATA-MOURA (Professor Universitário-Lisboa)
JOSÉ
DE FARIA COSTA (Professor Universitário-Coimbra)
JOSÉ
JORGE LETRIA (Escritor)
JOSÉ
LEMOS FERREIRA (Militar Reformado)
OSÉ
MEDEIROS FERREIRA (Professor Universitário-Lisboa)
JÚLIO
POMAR (Pintor)
LÍDIA
JORGE (Escritora)
LUÍS
REIS TORGAL (Professor Universitário-Coimbra)
MANUEL
CARVALHO DA SILVA (Professor Universitário-Lisboa)
MANUEL
DA SILVA (Sindicalista)
MANUEL
MARIA CARRILHO (Professor Universitário)
MANUEL
MONGE (Militar Reformado)
MANUELA
MORGADO (Economista)
MARGARIDA
LAGARTO (Pintora)
MARIA
BELO (Psicanalista)
MARIA
DE MEDEIROS (Realizadora de Cinema e Atriz)
MARIA
TERESA HORTA (Escritora)
MÁRIO
JORGE NEVES (Médico)
MIGUEL
OLIVEIRA DA SILVA (Professor Universitário-Lisboa)
NUNO
ARTUR SILVA (Autor e Produtor)
ÓSCAR
ANTUNES (Sindicalista)
PAULO
MORAIS (Professor Universitário-Porto)
PEDRO
ABRUNHOSA (Músico)
PEDRO
BACELAR VASCONCELOS (ProfessorUniversitário-Braga)
PEDRO
DELGADO ALVES (Deputado)
PEDRO
NUNO SANTOS (Deputado)
PILAR
DEL RIO SARAMAGO (Jornalista)
SÉRGIO
MONTE (Sindicalista)
TERESA
PIZARRO BELEZA (Professora Universitária-Lisboa)
TERESA
VILLAVERDE (Realizadora de Cinema)
VALTER
HUGO MÃE (Escritor)
VITOR
HUGO SEQUEIRA (Sindicalista)
VITOR
RAMALHO (Jurista) -que assina por si e em representação de todos os
signatários)
Nenhum comentário:
Postar um comentário