A Praga das
Cartas Anónimas
Por
Joaquim Carlos*
A
carta anónima sempre constituiu, pelos mais que muitos exemplos disponíveis,
como uma verdadeira praga da sociedade contemporânea independentemente da
atmosfera democrática que respiramos; tendo em conta a frequência com que o
fenómeno acontece, se pode considerar um comportamento social e culturalmente
enraizado de que todos se deviam envergonhar. Infelizmente, o homem vê com
alegria o mal alheio e, se puder, sem perigo de se prejudicar, concorrer para
esse mal, fá-lo sem hesitação, sorrindo na cara da vítima a abater, muitas
vezes comendo á mesma mesa.
Sendo
eu uma das vítimas directas destes procedimentos mais vermes, tenciono tecer
algumas considerações acerca dos insondáveis desígnios da alma humana neste
campo. Confesso que, como jornalista e dirigente associativo há diversos anos,
não consigo de forma fácil fazer uma leitura apurada, ainda que não
necessariamente coincidente com a dos entendidos nestas questões, muito próxima
daquilo que são as motivações de quem se presta e disponibiliza a
comportamentos de uma baixeza inqualificável e assassina.
Coincidência
ou não, é essencialmente nas instituições de cariz social que as cartas
anónimas circulam com mais frequência, cujos autores até exercem funções nos
órgãos sociais. E, sem lhe atribuir qualquer ordem de enumeração baseada no
grau de incidência, pelo menos das que são do meu conhecimento, ficando-me pelo
descomprometido método aleatório, direi, que não existe uma instituição pública
ou privada que não tenha já sido alvo da praga das cartas anónimas, ou dos
papelinhos deixados aqui e ali de forma aleatória nas secretárias dos
directores.
Considero,
pois, numa classificação subjectiva da maldade humana, a carta anónima um dos
mais indecentes e escabrosos comportamentos de quem quer que seja, e disso,
como disse, tenho sido uma vítima directa por mais do que uma vez. Porque a
pessoa visada, a vítima da maledicência, da intriga, da trampolinice, nos casos
em que as missivas passam de mão em mão, ou enviadas pelas vias normais de
circulação ainda que esteja de consciência tranquila, quer pessoal, quer
profissionalmente, é confrontada, por um lado, com a suspeição que sobre si
recai permanentemente, e, por outro, com juízos de valor precipitados, feitos por
quem a rodeia, conduzindo-a a um sofrimento atroz, a um estado psicológico
arrasador, podendo em muitos casos terminar com suicídio ou homicídio.
Assim,
estas almas indigentes, ao ocultarem a identidade, ao colocarem a máscara da
cobardia, estão a impedir que o alvo da sua frustração não possa ter direito ao
Contraditório, para, assim, poder repor a verdade e limpar o nome, permanecendo
conspurcado sabe-se-lá até quando.
Em
minha opinião, até se consegue entender que antes da Revolução dos Cravos, porque
até ali não havia liberdade de expressão, a carta anónima fosse um recurso
socialmente aceitável. Na conjuntura actual, em que as rádios e os jornais
locais se abrem e estão ao dispor dos cidadãos anónimos, permitindo que todos
tenham o direito de se defender, emitir opiniões, criticar e intervir
publicamente, no exercício da cidadania, na tentativa da busca da verdade e da
justiça, esconder a cara, por detrás do anonimato, atirar pedras e fugir é um
comportamento indigno, velhaco.
Uma
das grandes virtudes da liberdade é precisamente a certeza de que ninguém vai
preso por denunciar pessoas ou instituições, mesmo que os danos sejam
irreparáveis. Podemos, na pior das hipóteses, mesmo respeitando os mais
elementares princípios da Democracia, ter alguns dissabores, como “ganhar
amigos”, olhares transviados e fulminantes e outras consequências de pouca
monta.
Mesmo
assim, apontar o dedo, mas assumida, num acto de coragem, a ousadia do feito,
poupa-nos ao desconforto do peso na consciência; o que permite, a quem, ao
levantar da cama, uma certa leveza de espírito, por não ter vergonha da cara
reflectida no espelho.
Na
verdade, o acto de denunciar, tirando os casos em que os autores das cartas
anónimas agem por inveja, tentam pressionar decisões dos dirigentes, e sempre
com intenção de espezinhar o próximo – digamos que, aqui, o malfazejo é, por
norma, oficial do mesmo ofício do ultrajado, o que nos remete para a velha
máxima latina de Hobbes: “ homo hominis lupus” –, é saudável em democracia,
desde que os propósitos desse gesto sejam fundamentados e sérios. Denunciar,
por exemplo, que nesta ou naquela instituição se esbanjam dinheiros públicos;
que no organismo tal está instituída a política do compadrio; que fulano ou
sicrano está no lugar que está por causa do “senhor Cunha”, em detrimento de
outros concorrentes de reconhecida competência, etc., mais do que um dever,
pode ser considerada uma atitude destemida e virtuosa, se o referido acto não
for exercido cobardemente atrás da máscara do anonimato.
A
carta anónima versus denúncia é o expediente recorrente dos cobardes,
praticando assim uma devassa da vida privada de qualquer pessoa, sendo muitas
das vezes exercida por pessoas que saboreiam um café à mesa connosco,
fazendo-se de amigos, sinceros, juram a palavra de honra, acima de qualquer
suspeita, recorrendo a uma linguagem polida, encantadora, quase hipnotizante
com o intuito de recolher elementos para saciar a sua sede de vingança. A carta
anónima acarreta em sua passagem daninha, a mentira, a calúnia, a traição e a
maldade que se implantam permanentemente nos lábios e nas acções de quem as
comete.
Existem
cartas anónimas para todos os gostos, umas com falsas acusações conscientes, outras
com falsas acusações destinadas a desviar uma suspeita, recheadas de vingança,
leviandade e até vaidade por estranho que possa parecer. Os seus autores têm conhecimento
dos costumes diários da vítima a abater. Os recorrentes deste procedimento
revelam caracteres negativos no meio social em que se movimentam; fazem parte
da erva bravia do jardim das virtudes, e por mais que se destruam, estão sempre
a brotar viridentes e tóxicas por onde passam.
O
autor de uma carta anónima vrs denúncia actua sempre de forma livre, voluntária
e consciente, com intenção concretizada de devassar a vida privada, com o
intuito de provocar o maior sofrimento possível à vítima visada. A vingança é a
motivação primordial para a maioria dos casos de denunciação caluniosa.
No
pretérito dia 3 de Novembro um famoso Artista Aveirense, embaixador da ADASCA e
coordenador do II Espectáculo de Artistas Solidários a favor da referida
associação que decorreu no Salão da Junta de Freguesia de Cacia, teve a
amabilidade de me entregar uma dessas famosas cartas anónimas, através da qual
o seu autor (que infelizmente conheço há mais de 20 anos), me ataca em todas as
frentes, nem sequer poupando a minha origem do Alentejo, terra de onde sai com
apenas 11 anos de idade. Carta semelhante foi entregue ao Sr. Presidente
daquela Junta de Freguesia.
Este
personagem entrou para ADASCA a meu convite, tendo posteriormente desrespeitado
os seus deveres estatutários como elemento integrado nos órgãos sociais, os
quais jurou cumprir no acto de tomada de posse, encontrando-se hoje em situação
de suspensão de funções a seu pedido, apenas na qualidade de vogal da
assembleia geral. Os interessados em saber mais sobre este reincidente, podem
ler o que escreveu no Diário de Aveiro na edição dia 23 de Julho de 2011, como
ainda a resposta publicada na edição do dia 5 de Agosto do referido jornal. O
mesmo sujeito é autor de alguns e-mails datados do Agosto daquele mesmo ano,
com o remetente de anonimo@anonimo.pt.
No
mesmo jornal, edição do dia 12/09 outra associação sediada em Esgueira, deu-lhe
uma resposta nos termos adequados. Todas as instituições que franquearam a
entrada do sujeito, sofreram danos irreversíveis, minando as relações de
confiança entre os dirigentes, denegrindo publicamente a sua imagem que levou
anos a construir, sendo a ADASCA uma delas, que hoje representa cerca de 3108 dadores associados de pleno direito.
Este
artigo não reflecte uma resposta directa à carta anónima que está em poder da
direcção, nem a eventuais cartas que possam estar por ai a circular,
tão-somente, serve de reflexão ao título do mesmo. Contudo, a direcção está
atenta ao evoluir dos acontecimentos, não deixando de actuar na altura mais
conveniente. Estamos apenas, a ser condescendentes, quando não devíamos. A
vingança existe em consequência da ruminação das emoções depressivas, sobretudo
da cólera, da antipatia e do ódio, da «febre psíquica» que explodem nas almas
tacanhas: é a repulsa, para a consecutiva destruição física ou moral, mutua
entre os homens que se dizem racionais.
A
carta e a denúncia anónimas são o rosto dos covardes. Só gente desprezível e
repugnante é capaz de recorrer à calúnia para ferir a honra alheia, servindo-se
destes meios. Quem cala, consente. Logo, é conivente! Pois é, a primeira
Associação de Dadores de Sangue do Concelho de Aveiro, foi fundada por um
cidadão não aveirense. É crime? É uma instituição que tem despertado alguma
apetência. Se a praga continuar, a foto do seu autor será divulgada publicamente
juntamente com depoimentos das antecedentes.
Felizmente:
“Que nunca tirará alheia inveja, O bem que o outro merece e o céu deseja”
(Camões).
(Presidente
da Direcção da ADASCA)
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