MAIS UMA UNHA MENOS UM PÉ
Renato Assunção
Enfermeiro - Endocrinologia,
Diabetes e Metabolismo, CHUC EPE
A pessoa com
Diabetes pode vir a desenvolver uma série de complicações, nomeadamente a nível
do pé. É possível preveni-las através de um controlo rigoroso da hiperglicemia
e outros fatores concomitantes (HTA, Dislipidémia, etc.). O Pé Diabético está
entre as complicações mais onerosas da Diabetes. O aumento da prevalência da
Diabetes em todo o mundo trouxe com ela um aumento no número de amputações de
membros inferiores realizadas como resultado da doença. Relatórios
epidemiológicos indicam que mais de um milhão de amputações são realizadas a
cada ano em pessoas com Diabetes. Só em Portugal o número de amputações por
Diabetes foi de 1620, no ano de 2010. Apesar de ser uma das complicações mais
graves da Diabetes, as complicações do pé podem ser eficazmente prevenidas. Ao
implementar uma estratégia de intervenção que combina a prevenção, o tratamento
multidisciplinar das úlceras dos pés, uma vigilância rigorosa e a educação da
pessoa com Diabetes, é possível reduzir a taxa de amputações em até 85%.
Um
dos problemas mais frequentes no Pé Diabético é a Onicomicose. A Onicomicose é
uma infeção provocada por fungos, que se localiza nas unhas das mãos e dos pés
e que afeta principalmente o dedo grande do pé. Devido à onicomicose, a unha
sofre uma progressiva descoloração, deformação e espessamento. A prevalência de
onicomicose em pessoas com diabetes ascende aos 35%, comparando com os 2 a 13%
da população em geral. E isto porque existem um conjunto de fatores que
desencadeiam este problema, como idade superior a 60 anos, doença vascular
periférica, problemas do sistema imunitário, lesão e traumatismo da unha, ausência
de sensibilidade protetora, sapatos apertados e meias húmidas. A ausência de
dor e de desconforto fazem com que subvalorizem o problema. A consequência de
não tratar uma onicomicose, pode levar a uma infeção secundária, desencadeada
pela erosão da unha nos tecidos subjacentes que permitem a entrada de
bactérias, desenvolvendo úlceras, infeções profundas, inclusive no osso, dada a
proximidade do leito da unha com o mesmo. Sabendo que 60% das amputações dos
membros inferiores nos diabéticos são precedidas por uma úlcera, uma unha
infetada a mais pode significar um pé a menos.
Perante
este problema a pessoa com Diabetes deve procurar uma consulta no âmbito da
podologia, que dê resposta à necessidade de tratamento local e eventualmente
sistémico (comprimidos), dependendo do envolvimento ungueal. Neste sentido, o
Enfermeiro consiste num elemento chave quer na prevenção, através da educação
sobre os cuidados a ter com os pés, quer no tratamento local, através do
desbridamento mecânico e aplicação de tópicos. Deve ser feito um exame
micológico cultural, que permite identificar o agente e assim adequar o
tratamento indicado para o tipo de fungo presente, sendo que a sua prevalência
distribui-se pelos seguintes fungos: dermatófitos - tinea unguium (80 a 90%);
leveduras - candidíase ungueal (5 a 17%); e filamentosos não dermatófitos - micoses
ungueais (2 a 12%). A sua apresentação também varia de acordo com o agente,
podendo surgir uma onicomicose subungueal distal e lateral, subungueal proximal,
superficial branca ou distrófica proximal/total.
FONTES:
·
Magagnin, C.
(2010). Perfil de suscetibilidade a antifúngicos de dermatófitos isolados de
pacientes com insuficiência renal crónica. Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.
·
Araújo, A. et al.
(2003). Onicomicoses por fungos emergentes: análise clinica, diagnóstico
laboratorial e revisão. Anais Brasileiros de Dermatologia, 78(4).
·
Pollak, R. (2003). How to treat onychomycosis in
diabetic patients. Podiatry Today, 6(3).
·
Observatório
Nacional de Diabetes. (2011). Diabetes: factos e números 2011, Relatório Anual.
Portugal.
·
International Working Group on the Diabetic Foot. (2011). Diretivas práticas sobre o tratamento e a
prevenção do pé diabético.
Nenhum comentário:
Postar um comentário