11.13.2012

MAIS UMA UNHA MENOS UM PÉ



MAIS UMA UNHA MENOS UM PÉ


Renato Assunção
Enfermeiro - Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, CHUC EPE

A pessoa com Diabetes pode vir a desenvolver uma série de complicações, nomeadamente a nível do pé. É possível preveni-las através de um controlo rigoroso da hiperglicemia e outros fatores concomitantes (HTA, Dislipidémia, etc.). O Pé Diabético está entre as complicações mais onerosas da Diabetes. O aumento da prevalência da Diabetes em todo o mundo trouxe com ela um aumento no número de amputações de membros inferiores realizadas como resultado da doença. Relatórios epidemiológicos indicam que mais de um milhão de amputações são realizadas a cada ano em pessoas com Diabetes. Só em Portugal o número de amputações por Diabetes foi de 1620, no ano de 2010. Apesar de ser uma das complicações mais graves da Diabetes, as complicações do pé podem ser eficazmente prevenidas. Ao implementar uma estratégia de intervenção que combina a prevenção, o tratamento multidisciplinar das úlceras dos pés, uma vigilância rigorosa e a educação da pessoa com Diabetes, é possível reduzir a taxa de amputações em até 85%.  
Um dos problemas mais frequentes no Pé Diabético é a Onicomicose. A Onicomicose é uma infeção provocada por fungos, que se localiza nas unhas das mãos e dos pés e que afeta principalmente o dedo grande do pé. Devido à onicomicose, a unha sofre uma progressiva descoloração, deformação e espessamento. A prevalência de onicomicose em pessoas com diabetes ascende aos 35%, comparando com os 2 a 13% da população em geral. E isto porque existem um conjunto de fatores que desencadeiam este problema, como idade superior a 60 anos, doença vascular periférica, problemas do sistema imunitário, lesão e traumatismo da unha, ausência de sensibilidade protetora, sapatos apertados e meias húmidas. A ausência de dor e de desconforto fazem com que subvalorizem o problema. A consequência de não tratar uma onicomicose, pode levar a uma infeção secundária, desencadeada pela erosão da unha nos tecidos subjacentes que permitem a entrada de bactérias, desenvolvendo úlceras, infeções profundas, inclusive no osso, dada a proximidade do leito da unha com o mesmo. Sabendo que 60% das amputações dos membros inferiores nos diabéticos são precedidas por uma úlcera, uma unha infetada a mais pode significar um pé a menos.
Perante este problema a pessoa com Diabetes deve procurar uma consulta no âmbito da podologia, que dê resposta à necessidade de tratamento local e eventualmente sistémico (comprimidos), dependendo do envolvimento ungueal. Neste sentido, o Enfermeiro consiste num elemento chave quer na prevenção, através da educação sobre os cuidados a ter com os pés, quer no tratamento local, através do desbridamento mecânico e aplicação de tópicos. Deve ser feito um exame micológico cultural, que permite identificar o agente e assim adequar o tratamento indicado para o tipo de fungo presente, sendo que a sua prevalência distribui-se pelos seguintes fungos: dermatófitos - tinea unguium (80 a 90%); leveduras - candidíase ungueal (5 a 17%); e filamentosos não dermatófitos - micoses ungueais (2 a 12%). A sua apresentação também varia de acordo com o agente, podendo surgir uma onicomicose subungueal distal e lateral, subungueal proximal, superficial branca ou distrófica proximal/total.

FONTES:
·          Magagnin, C. (2010). Perfil de suscetibilidade a antifúngicos de dermatófitos isolados de pacientes com insuficiência renal crónica. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
·          Araújo, A. et al. (2003). Onicomicoses por fungos emergentes: análise clinica, diagnóstico laboratorial e revisão. Anais Brasileiros de Dermatologia, 78(4).
·          Pollak, R. (2003). How to treat onychomycosis in diabetic patients. Podiatry Today, 6(3).
·          Observatório Nacional de Diabetes. (2011). Diabetes: factos e números 2011, Relatório Anual. Portugal.
·          International Working Group on the Diabetic Foot. (2011). Diretivas práticas sobre o tratamento e a prevenção do pé diabético.


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