BISPO DE BEJA ACUSA POLÍTICOS DE FAZEREM LEIS
PARA SE PROTEGEREM
Precisamos de ser de novo evangelizados para entrarmos num processo contínuo de conversão, que renova a nossa vida e contagia os companheiros dos nossos caminhos.
1. Refundação, reorganização ou conversão?
De vez em quando os políticos e a comunicação social lançam para a praça pública palavras e expressões para alimentar polémicas e distrair-nos dos reais problemas da nossa sociedade.
Esta semana andou na baila a palavra refundação. Afinal, de que precisa o nosso país? De uma refundação ou de uma organização mais transparente, participada e responsável? Queremos mais Estado ou mais iniciativa particular, mais impostos para alimentar um Estado absorvente e omnipresente ou menos carga fiscal com cidadãos mais intervenientes e corresponsáveis pelo bem comum?
Estou convencido que sem conversão pessoal e identificação com valores morais que fomentem mais humanidade, mais verdade, mais respeito e amor uns pelos outros, mais igualdade e empenho pelo bem dos concidadãos, sobretudo os mais frágeis, não acertaremos o caminho para a construção dum país fraterno, com mais igualdade e livre de estruturas pesadas e escravizantes.
A separação clássica dos três poderes, legislativo, judicial e executivo não está a funcionar bem entre nós, porque as pessoas passam de um para o outro e perdem a sua autonomia e liberdade. As democracias baseiam-se na autonomia destes três poderes. Mas hoje surgiram outros poderes, que se infiltram e os enfraquecem, como é o caso dos meios de comunicação, que alguns denominam de quarto poder. Mas ainda mais forte é hoje o poder financeiro, muitas vezes anónimo, sem atenção pela dignidade das pessoas e corrosivo dos valores morais.
Muita gente deixou de acreditar e confiar nos políticos, porque, uma vez no poder, fazem leis para se protegerem e deixam-se dominar por lobbies poderosos, que lhes prometem segurança, uma vez deixada a vida política. O povo só voltará a confiar nos políticos e na justiça quando os seus procedimentos se tornarem mais transparentes e renunciarem a algumas benesses, que se foram acumulando ao longo dos anos e que contribuíram para aumentar o fosso das desigualdades. Há muitos interesses instalados.
Já Jesus dizia que não podemos servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro, à verdade e à mentira, ao poder e ao serviço, à solidariedade e à corrupção. Precisamos de uma profunda conversão Àquele que se autodenominou caminho, verdade e vida. Os seus discípulos também tiveram dificuldade em entender a linguagem do serviço e da entrega voluntária da vida do Mestre. Os apóstolos Tiago e João, com a cunha da sua mãe, pediram a Jesus um lugar importante no seu reino. Para isso até estariam dispostos a suportar alguns sacrifícios.
Jesus explicou, com muita paciência, o caminho que decidiu seguir e desafiou os apóstolos a acompanhá-lo. Quando virmos os mestres a dar o exemplo daquilo que apregoam, então segui-los-emos com confiança.
2. Reevangelização e revitalização
Encerrou em Roma o Sínodo dos bispos para a nova evangelização e a transmissão da fé cristã. Ao mundo materialista e secularizado é preciso anunciar a boa nova de Jesus Cristo, sem medo e sem falsos compromissos.
Na homilia da Missa de encerramento do Sínodo, o Papa Bento XVI, parafraseando o evangelho deste domingo, sobre a cura do cego de Jericó, lembrou que, sem anúncio do Evangelho e sem o desejo de ser curado da cegueira, não conseguiremos ver o caminho da vida.
Muitos ufanam-se de serem agnósticos, olhando com sobranceria para quem tem fé, acredita em Jesus Cristo e na boa nova que anuncia e testemunha. Se procurarmos a verdade e o sentido da vida, cruzar-nos-emos com a pessoa de Jesus e sentiremos a alegria da verdade que nos liberta e abre novos horizontes. Então também iremos seguir Jesus, para onde ele for, sem medo. A falta de confiança e de alegria dos cristãos de rotina, cansados, frios, fechados em si mesmos, são um contratestemunho. Por isso precisam de ser reevangelizados, até se encontrarem com a fonte, donde jorra água viva e pura. Assim aconteceu com a Samaritana, que depois de se encontrar com Jesus, junto ao poço de Jacob, correu a anunciar a alegria desse encontro libertador.
Aqui está um exemplo da transformação operada no encontro com Jesus, o Evangelho de Deus, para que tenhamos vida em abundância. Precisamos de ser reevangelizados, para termos vida autêntica. Revitalizados, seremos testemunhas, chamadas a fazer brilhar a Palavra da verdade, como escreveu o Papa na Carta apostólica Porta da Fé, com a qual anunciou o Ano da Fé, que estamos a celebrar desde 11 de Outubro, expressão que usou também como título da mensagem do Dia Mundial das Missões, que acabamos de celebrar.
Precisamos, pois, de ser sempre de novo evangelizados, para entrarmos num processo contínuo de conversão, que renova a nossa vida e contagia os companheiros dos nossos caminhos. Criados para a relação, só seremos pessoas e cristãos realizados na missão. Foi este também o testemunho de muitos representantes de grupos de jovens, espalhados pelo território extenso da diocese e que se reuniram no dia 28 de Outubro, em Almodôvar, para aí celebrarmos o Dia diocesano das Missões. Afinal, muitos jovens já descobriram a beleza de ser cristãos e missionários, confessando que sempre receberam mais do que deram nas suas experiências missionárias. Uma vez mais confirmei a certeza de que não se pode ser cristão, e sentir a alegria de o ser, sem o compromisso missionário.
† António Vitalino, Bispo de Beja
Terça, 30 de Outubro de 2012
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