O que lêem os
nossos adolescentes?
Nós, pais e demais elementos
constituintes da família, estamos a ser confrontados com mais um ano lectivo.
Naturalmente que procuramos dar o nosso
melhor aos filhos, e dentro dos possíveis ajudar também os digníssimos
professores e seus auxiliares, naquilo que está ao nosso alcance, para que no
fim de mais uma etapa, colhamos os benefícios do nosso esforço.
No entanto, convém não esquecer alguns
aspectos relacionados com a educação daqueles, nomeadamente no que toca com o
que lêem os nossos jovens, para além dos livros escolares, é disso que vamos
abordar neste espaço. Por o adolescente já não ser criança e ainda não ser
adulto, acha-se incompreendido.
A criança encanta-se com o maravilhoso.
Coloca-se a si própria no centro do mundo que constrói, ampliando-o, pouco a
pouco, com descobertas que faz, de olhos espantados.
A
leitura deve ser para o espírito como o alimento para o corpo, moderada, sã e
de boa digestão." (Marquês de Maricá) |
O adolescente debruça-se sobre si
próprio. O estado intermédio entre estas duas fases da vida – a da infância e a
idade adulta – a ideia de não ser compreendida, leva-o à contemplação do seu íntimo. Despediu-se de
um mundo encantador e simples para tomar contacto com outro cheio de
complicações. Experimenta modificações físicas que o perturbam, que o tornam
acautelado, desconfiado do seu próprio eu. E na adolescência que se registam
mais suicídios, crimes e deformações morais em grande número.
Certamente, o adolescente que traz da
sua infância uma boa formação, encontra muito menos dificuldade de adaptação
nesta nova fase da sua vida. Por isso, nunca é de mais lembrar que a infância
pode ser decisiva no desenvolvimento dum individuo. Impressões desagradáveis e
fortes, gravadas na memória da criança, complicam extraordinariamente as
dúvidas do adolescente. A literatura infantil como temos naturalmente verificado,
tem um grande papel na orientação da criança, que se projecta para além da infância.
Um das características mais pronunciadas
do adolescente é o «andar à procura». Procurar coisas novas, revoltando-se
contra as que existem. Procurar um ídolo. O conhecimento destas características
foi largamente aproveitado pelo regime nazista na Alemanha, que introduziu nos
espíritos dos jovens ideias e místicas sobre o mundo e os ídolos.
O adolescente não se engana quando se
considera um «incompreendido». São raros os pais e os professores que se
preocupam com o seu estado de espírito extremamente delicado. Quase não se
arreliam com estes revoltados e insatisfeitos. Procuram dominá-los e
castiga-los recalcando, deste modo, o que é natural. Assim, poucos ajudam o adolescente
que nem na literatura encontra o que procura.
Afinal que literatura necessitamos para
os nossos adolescentes? Evidentemente, aquela que vai ao encontro de todas as
suas dúvidas e dos seus desejos, ainda que prematuros. O facto de ele procurar
um ideal e um ídolo não deve levar-nos à criação de mundos falsos e à
mistificação de personagens. A consequência deste erro é a desilusão completa
sobre os ídolos impostos que, mais cedo ou mais tarde, tem de surgir.
Para satisfazer o seu desejo de admirar
temos muitos exemplos na história da Humanidade. Biografias de cientistas,
artistas, técnicos, etc…. que fazem das suas lutas, da sua fé e persistência; descrições
da vida dos anónimos que, por isso, o seu auxílio seja menos valioso, como
enfermeiros, médicos, operários e tantos outros dignos de se lhes conhecer a
vida que levaram.
É necessário que, desde cedo, se saiba o
que se passa em casa, fora de casa e longe de casa. As nossas crianças e os
nossos adolescentes, ao erguerem o olhar, vêem o avião a passar e sabem que ele
os pode levar em duas horas a Paris e em sete à América. Seria absurdo não
fazermos tudo para que se abram as janelas que dão para o exterior.
As crianças, os adolescentes precisam
não só de todo o nosso carinho e simpatia, mas também de toda a nossa
inteligência e do nosso esforço paciente e sério para uma compreensão dos graus
da sua evolução e dos seus problemas.
Se destruirmos o mundo infantil, a
criança substituirá, sem o saber, o seu mundo por outro, precoce, perigoso e
torcido da realidade. Poderíamos chamar a este processo de substituição dos
mundos íntimos da criança «o atrofiar da alma infantil».
Afinal, o que lêem os nossos
adolescentes? Que género de literatura recomendamos nós aos nossos filhos? É do
conhecimento geral, que das leituras perversas nascem maus pensamentos.
Sentimentos baixos, expressões péssimas, acções prevaricadoras. Mais, uma
leitura má, seja ela que forma for, é uma carta do inferno, nefasta para a saúde
mental, provoca a anarquia intelectual e conduz à indisciplina do pensamento.
A leitura tornou-se uma necessidade, um
alimento do espírito e da imaginação. A imprensa, forja que incessantemente
atira para o mercado publicações de variada espécie, alcançou categoria de
potência. Por ela se governa, em parte notável, o mundo. Queiram ou não alguns
homens, é preciso contar com ela, com a sua influência. Os jornalistas sabem
disso, os professores também.
A orientação da leitura, portanto, é um
problema que ninguém, pessoa ou instituição, com responsabilidades educativas,
pode deixar de procurar resolver, ao menos no âmbito da sua influência, segundo
as insofismáveis e irrevogáveis exigências naturais e sobrenaturais do homem. Bem
podíamos reflectir sobre as espécies de leitura que podem ser indiferentes, más
ou boas.
Em Outubro de 2011 foi divulgado um
estudo com a seguinte designação: “Adolescentes lêem menos do que deviam” realizado
pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE),
afirmando que os melhores leitores lêem mais por estarem motivados ao acto e,
consequentemente, desenvolvem mais o vocabulário e a capacidade de compreensão.
Todos sabemos que a quantidade de tempo
dedicado à leitura como lazer na infância e na adolescência influencia directamente
na formação de leitores e implica em reflexos na vida adulta. Uma boa
compreensão de leitura está ligada à melhor qualidade de vida, uma vez que um
bom leitor consegue compreender o mundo em que vive de forma mais aplicada aos
demais.
Naquele estudo, nosso país é citado como
uma das nações com os menores índices de leitura entre alunos na faixa dos 15
anos. Apenas 19% dos estudantes entre 14 e 17 anos dizem ler livros que não
foram pedidos na escola. O índice cai para 10% na faixa de 11 e 13 anos.
Os leitores que se saíram melhor na
avaliação afirmaram ler ficção. Contudo, a leitura de outros materiais, como
revistas, jornais e livros de não-ficção também ajuda a fazer da leitura um
hábito, especialmente entre leitores mais “fracos” ou iniciantes.
Considero que para uma criança ou
adolescente se tornar um adulto leitor há duas principais influências: família
e escola. O incentivo dos pais desde a infância, contando histórias, comprando
e presenteando com livros e pequenos actos como levar a feiras culturais e literárias
são acções com reflexos futuros.
Já na escola, professores devem usar sua
sabedoria para mostrar a importância da literatura na vida dos alunos de forma
correcta, não empurrando clássicos aos jovens, mas mostrando os caminhos da
sabedoria, do entretenimento e da imaginação que os livros têm e podem oferecer
aos leitores.
É preciso ler de tudo! Sim ou não?
Gostamos de saber a opinião dos leitores. “A leitura, na nossa sociedade, é uma
forma de dar voz ao cidadão e é preciso prepará-lo para tornar-se um sujeito no
acto de ler” (Fernanda Bergier Cardoso). Conselho do Apóstolo Paulo: "Examinai tudo.
Retende o bem". (1Ts. 5:21).
Joaquim Carlos
(Jornalista)
NB: Fui Proprietário, Editor e Director do Jornal que surge na imagem que ilustra este artigo.
NB: Fui Proprietário, Editor e Director do Jornal que surge na imagem que ilustra este artigo.
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