10.05.2012

O que lêem os nossos adolescentes?


O que lêem os nossos adolescentes?

Nós, pais e demais elementos constituintes da família, estamos a ser confrontados com mais um ano lectivo.
Naturalmente que procuramos dar o nosso melhor aos filhos, e dentro dos possíveis ajudar também os digníssimos professores e seus auxiliares, naquilo que está ao nosso alcance, para que no fim de mais uma etapa, colhamos os benefícios do nosso esforço.
No entanto, convém não esquecer alguns aspectos relacionados com a educação daqueles, nomeadamente no que toca com o que lêem os nossos jovens, para além dos livros escolares, é disso que vamos abordar neste espaço. Por o adolescente já não ser criança e ainda não ser adulto, acha-se incompreendido.
A criança encanta-se com o maravilhoso. Coloca-se a si própria no centro do mundo que constrói, ampliando-o, pouco a pouco, com descobertas que faz, de olhos espantados.
A leitura deve ser para o espírito como o alimento para o corpo, moderada, sã e de boa digestão." (Marquês de Maricá)
O adolescente debruça-se sobre si próprio. O estado intermédio entre estas duas fases da vida – a da infância e a idade adulta – a ideia de não ser compreendida, leva-o à contemplação do seu íntimo. Despediu-se de um mundo encantador e simples para tomar contacto com outro cheio de complicações. Experimenta modificações físicas que o perturbam, que o tornam acautelado, desconfiado do seu próprio eu. E na adolescência que se registam mais suicídios, crimes e deformações morais em grande número.
Certamente, o adolescente que traz da sua infância uma boa formação, encontra muito menos dificuldade de adaptação nesta nova fase da sua vida. Por isso, nunca é de mais lembrar que a infância pode ser decisiva no desenvolvimento dum individuo. Impressões desagradáveis e fortes, gravadas na memória da criança, complicam extraordinariamente as dúvidas do adolescente. A literatura infantil como temos naturalmente verificado, tem um grande papel na orientação da criança, que se projecta para além da infância.
Um das características mais pronunciadas do adolescente é o «andar à procura». Procurar coisas novas, revoltando-se contra as que existem. Procurar um ídolo. O conhecimento destas características foi largamente aproveitado pelo regime nazista na Alemanha, que introduziu nos espíritos dos jovens ideias e místicas sobre o mundo e os ídolos.
O adolescente não se engana quando se considera um «incompreendido». São raros os pais e os professores que se preocupam com o seu estado de espírito extremamente delicado. Quase não se arreliam com estes revoltados e insatisfeitos. Procuram dominá-los e castiga-los recalcando, deste modo, o que é natural. Assim, poucos ajudam o adolescente que nem na literatura encontra o que procura.
Afinal que literatura necessitamos para os nossos adolescentes? Evidentemente, aquela que vai ao encontro de todas as suas dúvidas e dos seus desejos, ainda que prematuros. O facto de ele procurar um ideal e um ídolo não deve levar-nos à criação de mundos falsos e à mistificação de personagens. A consequência deste erro é a desilusão completa sobre os ídolos impostos que, mais cedo ou mais tarde, tem de surgir.
Para satisfazer o seu desejo de admirar temos muitos exemplos na história da Humanidade. Biografias de cientistas, artistas, técnicos, etc…. que fazem das suas lutas, da sua fé e persistência; descrições da vida dos anónimos que, por isso, o seu auxílio seja menos valioso, como enfermeiros, médicos, operários e tantos outros dignos de se lhes conhecer a vida que levaram.
É necessário que, desde cedo, se saiba o que se passa em casa, fora de casa e longe de casa. As nossas crianças e os nossos adolescentes, ao erguerem o olhar, vêem o avião a passar e sabem que ele os pode levar em duas horas a Paris e em sete à América. Seria absurdo não fazermos tudo para que se abram as janelas que dão para o exterior.
As crianças, os adolescentes precisam não só de todo o nosso carinho e simpatia, mas também de toda a nossa inteligência e do nosso esforço paciente e sério para uma compreensão dos graus da sua evolução e dos seus problemas.
Se destruirmos o mundo infantil, a criança substituirá, sem o saber, o seu mundo por outro, precoce, perigoso e torcido da realidade. Poderíamos chamar a este processo de substituição dos mundos íntimos da criança «o atrofiar da alma infantil».
Afinal, o que lêem os nossos adolescentes? Que género de literatura recomendamos nós aos nossos filhos? É do conhecimento geral, que das leituras perversas nascem maus pensamentos. Sentimentos baixos, expressões péssimas, acções prevaricadoras. Mais, uma leitura má, seja ela que forma for, é uma carta do inferno, nefasta para a saúde mental, provoca a anarquia intelectual e conduz à indisciplina do pensamento.
A leitura tornou-se uma necessidade, um alimento do espírito e da imaginação. A imprensa, forja que incessantemente atira para o mercado publicações de variada espécie, alcançou categoria de potência. Por ela se governa, em parte notável, o mundo. Queiram ou não alguns homens, é preciso contar com ela, com a sua influência. Os jornalistas sabem disso, os professores também.
A orientação da leitura, portanto, é um problema que ninguém, pessoa ou instituição, com responsabilidades educativas, pode deixar de procurar resolver, ao menos no âmbito da sua influência, segundo as insofismáveis e irrevogáveis exigências naturais e sobrenaturais do homem. Bem podíamos reflectir sobre as espécies de leitura que podem ser indiferentes, más ou boas.
Em Outubro de 2011 foi divulgado um estudo com a seguinte designação: “Adolescentes lêem menos do que deviam” realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), afirmando que os melhores leitores lêem mais por estarem motivados ao acto e, consequentemente, desenvolvem mais o vocabulário e a capacidade de compreensão.
Todos sabemos que a quantidade de tempo dedicado à leitura como lazer na infância e na adolescência influencia directamente na formação de leitores e implica em reflexos na vida adulta. Uma boa compreensão de leitura está ligada à melhor qualidade de vida, uma vez que um bom leitor consegue compreender o mundo em que vive de forma mais aplicada aos demais.
Naquele estudo, nosso país é citado como uma das nações com os menores índices de leitura entre alunos na faixa dos 15 anos. Apenas 19% dos estudantes entre 14 e 17 anos dizem ler livros que não foram pedidos na escola. O índice cai para 10% na faixa de 11 e 13 anos.
Os leitores que se saíram melhor na avaliação afirmaram ler ficção. Contudo, a leitura de outros materiais, como revistas, jornais e livros de não-ficção também ajuda a fazer da leitura um hábito, especialmente entre leitores mais “fracos” ou iniciantes.
Considero que para uma criança ou adolescente se tornar um adulto leitor há duas principais influências: família e escola. O incentivo dos pais desde a infância, contando histórias, comprando e presenteando com livros e pequenos actos como levar a feiras culturais e literárias são acções com reflexos futuros.
Já na escola, professores devem usar sua sabedoria para mostrar a importância da literatura na vida dos alunos de forma correcta, não empurrando clássicos aos jovens, mas mostrando os caminhos da sabedoria, do entretenimento e da imaginação que os livros têm e podem oferecer aos leitores.
É preciso ler de tudo! Sim ou não? Gostamos de saber a opinião dos leitores. “A leitura, na nossa sociedade, é uma forma de dar voz ao cidadão e é preciso prepará-lo para tornar-se um sujeito no acto de ler” (Fernanda Bergier Cardoso). Conselho do Apóstolo Paulo: "Examinai tudo. Retende o bem". (1Ts. 5:21).

Joaquim Carlos
(Jornalista)

NB: Fui Proprietário, Editor e Director do Jornal que surge na imagem que ilustra este artigo.

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