12.28.2012

Reconciliação = Perdão



Reconciliação = Perdão


Por Joaquim Carlos (*)
O mundo de hoje necessita e procura paz. Apesar disso, o homem vive intranquilo e abespinhado pela insegurança económica, pela crise política, pela monstruosidade nuclear, pela inimizade, pelas guerras e revoluções, pelo ódio e vingança. A “guerra fria” continua amedrontando a humanidade.
Portanto, se é desolador saber que o homem vive em tal situação com o seu próximo igual, muito mais doloroso e preocupante é saber que o homem vive em inimizade com o seu Criador.
Sabe-se que nenhum problema ou dificuldade é insuportável ou insolúvel. Para tanto basta que estejamos bem relacionados com a pessoa certa. Solidão, cansaço mental, ansiedade, tensão nervosa, tensão emocional, depressão, preocupações financeiras, insegurança permanente. A lista dos nossos males é muito longa. Para tudo isto há solução. Basta que acertemos o nosso relacionamento com as pessoas e com Deus. A presente reflexão cristã é divulgada na convicção de que Deus já nos pôs a todos diante da solução. A solução que Deus descobre tem nesta meditação por tema: Reconciliação = Perdão. Não pode haver genuína reconciliação sem perdão. Os apertos de mão, as palmadas nas costas pouco ou nada simbolizam, por vezes traduzem-se em hipocrisias.
A reconciliação é a grande mensagem bíblica da parte de Deus aos homens. Que significa reconciliar? O dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, define o termo da seguinte forma: Reconciliar – “acto ou efeito de reconciliar; restabelecimento das relações entre pessoas que andavam desavindas; (…) admissão de um convertido no seio da Igreja”. Segundo esta definição, reconciliar é o acto de mudar uma situação em outra ou mudar uma situação que deixou de ser normal, para a sua normalidade. Como exemplo: da guerra à paz; da inimizade à amizade; da desavença para a harmonia.

Quando a Escritura fala em reconciliação ela a apresenta em duas dimensões: uma vertical e outra horizontal. Na situação vertical ela trata do relacionamento entre Deus e as pessoas, entre o Criador e a criatura. Ela afirma que inicialmente este relacionamento foi de paz e amizade total. No instante, porém, que o homem desobedeceu às ordens de Deus, rompeu-se também este relacionamento. Por culpa exclusiva do homem ele perdeu a felicidade e a alegria que lhe advinham do relacionamento livre e franco com seu Deus. É a tragédia do pecado!
Com a desobediência o homem também perdeu a capacidade de dar o primeiro passo na procura de um novo diálogo para reconciliação. Estava ele condenado a viver na infeliz situação de inimigo de Deus para sempre. No entanto, Deus mesmo tomou a iniciativa para a reconciliação.
Ainda que o preço a pagar seria o mais caro possível, Deus se prontificou em pagá-lo. Motivado unicamente por sua graça e amor para com o homem desgarrado. Foi por causa deste amor que o Filho de Deus se tornou homem, viveu uma vida sem pecado, mas mesmo assim teve que padecer e morrer na cruz do Calvário, para que com seu santo e inocente sangue pudesse pagar as dívidas de todas as pessoas para com Deus, e desta forma estabelece definitivamente a reconciliação e a paz entre os homens e Deus.
Esta iniciativa do coração do Pai é testificado pelo depoimento do apóstolo: “Tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo, por meio de Cristo… a saber que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens a suas transgressões”. “Porque se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte de seu Filho, muito mais estando reconciliados, seremos salvos pela sua vida”. Outro apóstolo também expressou: “Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”.
Todo aquele, portanto, que reconhece as suas faltas contra Deus, que reconhece a sua completa falência espiritual, que reconhece e confia na Palavra que lhe oferece a reconciliação com Deus, mediante a fé em Jesus Cristo, recebe o perdão de todos os seus pecados. Facto este que lhe assegura amizade e paz com Deus.
E nesta paz pode adorar, louvar e servir a Cristo, seu Salvador; pode permanecer-lhe fiel e fortificar sua confiança na reconciliação através da Palavra, Comunhão vrs Sacramentos.
Além da reconciliação vertical, entre Deus e os homens, a Bíblia anuncia uma reconciliação horizontal, entre as pessoas com os demais. Na verdade, Deus reconciliou as pessoas consigo mesmo, para que elas pudessem reconciliarem-se umas com as outras.
Fazendo um retrospecto na história dos homens constatamos que um mar de sangue tem banhado a terra como consequência do ódio, da inimizade e da guerra entre os homens. Também em nossos dias impera a violência e a morte entre as pessoas. Afastados de Deus, por causa do pecado, as pessoas também deixam de ter paz com os seus semelhantes. Com o pecado nasceu o ódio, a inveja, a vingança e o desejo de matar.
A própria Escritura fornece exemplo de tal situação: Caim, tomado de inveja contra o seu irmão, Abel, convida-o para um passeio pelo campo. Ali investe traiçoeiramente contra Abel, deixando-o sem vida. Caim não teve forças próprias para controlar o desejo e a acção funesta do pecado que dominava o seu coração. Caim foi vencido pelo pecado e passou para a história como o primeiro homicida.
Como Caim, todas as pessoas, ao invés de senhores agora são escravos do pecado. Por força própria ninguém é capaz de libertar-se do domínio deste cruel tirano, pois cada pessoa sempre tenta sobrepor-se a outra. Também aqui é necessário a intervenção de Cristo. Ao nos reconciliar com Deus, ele também nos reconciliou com o nosso semelhante e nos dá a capacidade de irmos ao encontro do próximo para oferecer e receber a reconciliação.
O mundo continua a clamar por fraternidade e paz entre as pessoas, entre as nações. Cristo oferece esta paz tão almejada. Sem Cristo não pode haver o elo de união e reconciliação dos homens entre si.
Portanto, busquemos a paz, busquemos a reconciliação e o perdão, ali onde ela se oferece, junto a Cristo em Sua Palavra. E finalmente, “no que depender de nós, tende paz com todos os homens”.
O cristianismo não é uma religião morta, fria, formal – é vida, a vida de Deus no coração humano, e é isso que faz do cristianismo a única religião. Que reine no coração do homem o genuíno sentimento de reconciliação e perdão "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". (Romanos 3.23). “O mundo ama seu lodo e não quer que o agitemos.” (Dostoievsky – Confissão de Stavroguine). "Desfaça-se diante de Deus em particular, antes que você se desfaça publicamente". (Joyce Meyer). Que toda a glória seja dada ao Senhor Jesus, razão da nossa esperança! Graça e Paz, são os meus votos sinceros, pois ainda vivemos em ambiente de Natal.

(* Jornalista)
NB: Outros artigos podem ser lidos no mesmo Jornal, do que sou colunista desde Setembro do ano ainda em curso.






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