Reconciliação = Perdão
Por
Joaquim Carlos (*)
O
mundo de hoje necessita e procura paz. Apesar disso, o homem vive intranquilo e
abespinhado pela insegurança económica, pela crise política, pela
monstruosidade nuclear, pela inimizade, pelas guerras e revoluções, pelo ódio e
vingança. A “guerra fria” continua amedrontando a humanidade.
Portanto,
se é desolador saber que o homem vive em tal situação com o seu próximo igual,
muito mais doloroso e preocupante é saber que o homem vive em inimizade com o
seu Criador.
Sabe-se que nenhum problema ou
dificuldade é insuportável ou insolúvel. Para tanto basta que estejamos bem
relacionados com a pessoa certa. Solidão, cansaço mental, ansiedade, tensão
nervosa, tensão emocional, depressão, preocupações financeiras, insegurança
permanente. A lista dos nossos males é muito longa. Para tudo isto
há solução. Basta que acertemos o nosso relacionamento com as pessoas e com
Deus. A presente reflexão cristã é divulgada na convicção de que Deus já nos
pôs a todos diante da solução. A solução que Deus descobre tem nesta meditação
por tema: Reconciliação = Perdão. Não pode haver genuína reconciliação sem
perdão. Os apertos de mão, as palmadas nas costas pouco ou nada simbolizam, por
vezes traduzem-se em hipocrisias.
A
reconciliação é a grande mensagem bíblica da parte de Deus aos homens. Que
significa reconciliar? O dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, define
o termo da seguinte forma: Reconciliar – “acto ou efeito de reconciliar;
restabelecimento das relações entre pessoas que andavam desavindas; (…)
admissão de um convertido no seio da Igreja”. Segundo esta definição,
reconciliar é o acto de mudar uma situação em outra ou mudar uma situação que
deixou de ser normal, para a sua normalidade. Como exemplo: da guerra à paz; da
inimizade à amizade; da desavença para a harmonia.
Quando
a Escritura fala em reconciliação ela a apresenta em duas dimensões: uma
vertical e outra horizontal. Na situação vertical ela trata do relacionamento
entre Deus e as pessoas, entre o Criador e a criatura. Ela afirma que
inicialmente este relacionamento foi de paz e amizade total. No instante,
porém, que o homem desobedeceu às ordens de Deus, rompeu-se também este
relacionamento. Por culpa exclusiva do
homem ele perdeu a felicidade e a alegria que lhe advinham do relacionamento
livre e franco com seu Deus. É a tragédia do pecado!
Com
a desobediência o homem também perdeu a capacidade de dar o primeiro passo na
procura de um novo diálogo para reconciliação. Estava ele condenado a viver na
infeliz situação de inimigo de Deus para sempre. No entanto, Deus mesmo tomou a
iniciativa para a reconciliação.
Ainda
que o preço a pagar seria o mais caro possível, Deus se prontificou em pagá-lo.
Motivado unicamente por sua graça e amor para com o homem desgarrado. Foi por
causa deste amor que o Filho de Deus se tornou homem, viveu uma vida sem
pecado, mas mesmo assim teve que padecer e morrer na cruz do Calvário, para que
com seu santo e inocente sangue pudesse pagar as dívidas de todas as pessoas
para com Deus, e desta forma estabelece definitivamente a reconciliação e a paz
entre os homens e Deus.
Esta
iniciativa do coração do Pai é testificado pelo depoimento do apóstolo: “Tudo
provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo, por meio de Cristo… a saber
que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos
homens a suas transgressões”. “Porque se nós, quando inimigos, fomos
reconciliados com Deus mediante a morte de seu Filho, muito mais estando
reconciliados, seremos salvos pela sua vida”. Outro apóstolo também expressou:
“Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele
nos amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”.
Todo
aquele, portanto, que reconhece as suas faltas contra Deus, que reconhece a sua
completa falência espiritual, que reconhece e confia na Palavra que lhe oferece
a reconciliação com Deus, mediante a fé em Jesus Cristo, recebe o perdão de
todos os seus pecados. Facto este que lhe assegura amizade e paz com Deus.
E
nesta paz pode adorar, louvar e servir a Cristo, seu Salvador; pode
permanecer-lhe fiel e fortificar sua confiança na reconciliação através da
Palavra, Comunhão vrs Sacramentos.
Além
da reconciliação vertical, entre Deus e os homens, a Bíblia anuncia uma
reconciliação horizontal, entre as pessoas com os demais. Na verdade, Deus
reconciliou as pessoas consigo mesmo, para que elas pudessem reconciliarem-se
umas com as outras.
Fazendo um retrospecto na história dos
homens constatamos que um mar de sangue tem banhado a terra como consequência
do ódio, da inimizade e da guerra entre os homens. Também em nossos dias impera
a violência e a morte entre as pessoas.
Afastados de Deus, por causa do pecado, as pessoas também deixam de ter paz com
os seus semelhantes. Com o pecado nasceu
o ódio, a inveja, a vingança e o desejo de matar.
A
própria Escritura fornece exemplo de tal situação: Caim, tomado de inveja
contra o seu irmão, Abel, convida-o para um passeio pelo campo. Ali investe
traiçoeiramente contra Abel, deixando-o sem vida. Caim não teve forças próprias
para controlar o desejo e a acção funesta do pecado que dominava o seu coração.
Caim foi vencido pelo pecado e passou
para a história como o primeiro homicida.
Como
Caim, todas as pessoas, ao invés de senhores agora são escravos do pecado. Por
força própria ninguém é capaz de libertar-se do domínio deste cruel tirano,
pois cada pessoa sempre tenta sobrepor-se a outra. Também aqui é necessário a
intervenção de Cristo. Ao nos reconciliar com Deus, ele também nos reconciliou
com o nosso semelhante e nos dá a capacidade de irmos ao encontro do próximo
para oferecer e receber a reconciliação.
O mundo continua a clamar por
fraternidade e paz entre as pessoas, entre as nações. Cristo oferece esta paz
tão almejada. Sem Cristo não pode
haver o elo de união e reconciliação dos homens entre si.
Portanto,
busquemos a paz, busquemos a reconciliação e o perdão, ali onde ela se oferece,
junto a Cristo em Sua Palavra. E finalmente, “no que depender de nós, tende paz
com todos os homens”.
O cristianismo não é uma religião morta,
fria, formal – é vida, a vida de Deus no coração humano, e é isso que faz do
cristianismo a única religião. Que reine no coração do homem o genuíno
sentimento de reconciliação e perdão "Porque todos pecaram e destituídos
estão da glória de Deus".
(Romanos 3.23). “O mundo ama seu lodo e não quer que o agitemos.” (Dostoievsky
– Confissão de Stavroguine). "Desfaça-se diante de Deus em particular,
antes que você se desfaça publicamente". (Joyce Meyer). Que toda a glória seja dada ao Senhor
Jesus, razão da nossa esperança! Graça e Paz, são os meus votos sinceros,
pois ainda vivemos em ambiente de Natal.
(*
Jornalista)
NB: Outros
artigos podem ser lidos no mesmo Jornal, do que sou colunista desde Setembro do
ano ainda em curso.
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