Privilegiados
contra desesperados
Artigos:Rui
Ramos (*) 28
de Novembro, 2012
Milhares de portugueses desesperados formam
diariamente filas intermináveis nos Centros de Emprego e outros largos milhares
ainda é noite e lá vão para Alcântara na tentativa esperançosa de conseguir um
visto para Angola, a nova Terra da Promissão.
O
povo português é tradicionalmente um povo pobre, povo de olhar o chão para ver
se encontra centavos, tostões ou cêntimos. Mas de repente votou num poder que
lhe abriu as portas do paraíso artificial. Desatou a contrair empréstimos para
comprar primeira, segunda e terceira habitação, carros para cada membro da
família, computador para cada membro da família, cão para cada membro da
família, um telemóvel por cada operadora para cada membro da família.
Os
bancos fizeram o seu trabalho de casa, deram empréstimos a cada membro da
família, deram cartões de crédito, cinco para cada membro da família, até bebé
tem cartão de crédito e empréstimo bancário em Portugal.
Narizes
empinados, até pareciam ricos. Parecia que estavam a crescer, a subir. Tinha
até motorista de autocarro 463 que não parava na paragem quando trabalhadora
cabo-verdiana tocava. Trabalhar para pretos?
Menina
mais castanha era chamada de “suja”, vai para a tua terra. Presidente da Câmara
de Lisboa apanhou sol desde os tempos dos avós e muitas pessoas chamavam-lhe “o
preto da Câmara”. Gostam muito de chamar “pretinho”, gostam mesmo.
De
repente acabou a teta da loba, secou, voltou ao que era, como sempre foi: país
muito pobre. Quase dois milhões no desemprego para o resto da vida. Prosperam
negócios ilegais, nas cervejarias trafica-se droga na cara da polícia, à luz do
dia assaltam-se pessoas e supermercados impunemente, a polícia diz que não pode
fazer nada.
Então
chegam notícias, não de Preste João, mas da teta angolana: tem leite
enriquecido.
Chiu,
não chama mais preto, eles não gostam e não te dão visto. E então a procissão
de nossa senhora da esperança avança para Alcântara, enche o passeio como uma jibóia.
Marcam lugar, vão rápido no bar, menina, uma bica bem escura, eu não sou
racista. Na bicha só se ouve “eu não sou racista, nunca fui, eu nunca chamei
preto a ninguém, acho que me vão dar visto…
Esses
são os desgraçados, arruinados, miseráveis de um país no abismo. Outros vivem
desses. Os candongueiros, os fugitivos dos impostos, mas também os
intelectualóides que já foram paridos com um livro na mão. Passam lá de
madrugada quando voltam para casa e ao verem aquela bicha espumam como cão
vadio, põem cara de podre e murmuram “pretos da merda”, passam na bicha e
trombeiam “aquilo lá é uma ditadura, os chineses comem pessoas…”.
Ninguém
liga a esses pereiras gayvotas de rabo gordo. Depois quando acordam a meio da
tarde voltam lá – e lá está a bicha – outra bicha interminável, para recolher
os vistos, os intelectualóides trombilham de novo, despenteados, casposos e com
a boca suja (intelectualóide lusitano não lava os dentes): “ide lá, ide, ide lá
fazer filhos mulatos…”
Derrotada
em Sintra, à beira da exaustão nervosa, depois de três horas no IC19, Ana Gomes
chega a Alcântara e fala de longe aos desesperados de migalhas: “Eu sou amiga
de Angola, eu nunca falei mal de Angola, quem falou mal foi o doutor Pacheco
Pereira, eu nunca fui à Jamba, eu nunca vi o Savimbi, eu não pus nome de
Savimbi no meu filho, quem pôs foi o João…” Os zombies lusitanos não a ouvem,
nem a ela nem ao tal Pereira, os ciumentos, os despeitados, os preconceituosos,
os vozinhas finas, cheios de raiva por causa daquelas bichas longas, cada pessoa
que ali chega desesperada que chega à bicha é mais uma cárie naqueles dentes
sujos: “não, não, não estão a chegar mais, doutor, diga-me que não estão a
chegar mais…”.
Quem
chega atrasado à interminável bicha diária e não ouviu, pergunta quem é aquela
nervosa com aqueles tiques esquisitos. Um desesperado lhe diz, desinteressado:
é uma gaja de Sintra que está bem instalada na Europa e vem aqui cuspir
perdigotos gozando connosco, como aquele Pereirinha gorduxoso esquisito que
brinca com a nossa miséria.
Então
o desesperado alcança a porta e uma luz se abre, chora de alegria pela primeira
vez há muito tempo, sai do mundo escuro dos mortos e entra no mundo luminoso da
esperança.
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NB:
o ódio à flor da pele está aqui bem patente. São porventura os angolanos, que
vão comprar diversos órgãos de comunicação social portugueses? Que adjectivos vêm
a ser estes? Que universidade frequentou o Sr. Rui ramos para vomitar contra os
portugueses estas afirmações atentatórias? Temos aqui uma bomba acendiária…
Como
português sinto-me ofendido com esta verborreia. O
que dizer de um País rico, mas pede a um pobre para fazer doações porque o Povo
angolano passava fome e não tinha com que vestir há uns escassos anos atrás, e
o seu presidente respira dinheiro por todos os lados?
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