Sida:
Portugueses temem contaminação em transfusões de sangue nos hospitais
Os autores do estudo sublinham que existe ainda um grande desconhecimento sobre a doença PATRICK SEEGER/EPA |
Mais
de metade dos inquiridos num estudo a nível nacional diz ter receio de contrair
o vírus da sida através de transfusões de sangue nos hospitais, revelaram os
autores do estudo.
O
inquérito — que pretendeu avaliar o conhecimento que os portugueses têm sobre a
sida — foi elaborado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
(ISCSP), em colaboração com a Comissão Nacional de Luta Contra a Sida (CNLCS),
tendo sido apresentado hoje na Figueira da Foz, durante o congresso
"Pandemias na Era da Globalização".
Segundo
o inquérito, 57 por cento dos entrevistados considera que existe um
"grande risco" de contrair a doença através de transfusões de sangue
nos hospitais.
Por
faixas etárias, os mais preocupados são os inquiridos com idades compreendidas
entre os 50 e 59 anos (73 por cento), seguida dos que integram o grupo dos 60
aos 69 anos (65 por cento), sendo os mais jovens (15 a 19 anos) os menos
preocupados (39 por cento).
Face
aos dados apresentados, o sociólogo Fausto Amaro, coordenador de estudo,
considerou que o receio das transfusões de sangue "está relacionado com o
imaginário das pessoas". "Num país como o nosso, que tem o sistema de
sangue controlado, o risco é mínimo. Sangue, sexo e drogas são três palavras
carregadas de significado que fazem as pessoas reagir de forma emocional e
irracional", defendeu.
A
mesma posição foi sustentada por Meliço Silvestre, presidente da CNLCS, que
acredita que "este problema resulta mais do imaginário das pessoas que da
realidade".
Outros
dados levam os investigadores a concluir que existe ainda entre a população
portuguesa "muito desconhecimento" sobre a forma de transmissão do
vírus.
A
questão da picadela do mosquito, que Fausto Amaro considerou como "um dos
mitos da sida desde o início da epidemia", foi ainda assim referida por 21
por cento dos entrevistados como sendo um factor de "grande risco" na
transmissão da doença.
A
percentagem sobe para os 37 por cento em relação ao uso de sanitários públicos,
enquanto a partilha de uma refeição com uma pessoa portadora de HIV é factor de
risco para 18 por cento dos inquiridos.
Quanto
ao comportamento sexual, dos 16 por cento de entrevistados que disseram ter
tido mais de um parceiro sexual ou pelo menos um parceiro ocasional no ano
anterior, 62 por cento responderam que nunca usavam (20 por cento) ou que
usavam às vezes (42 por cento) o preservativo — números considerados
"preocupantes" por Meliço Silvestre.
Já
Fausto Amaro frisou que os números demonstram que existe "uma diferença
entre aquilo que as pessoas acham que se deve fazer e aquilo que fazem na
realidade". "Esta situação é das mais preocupantes já que quando
perguntámos se era muito perigoso ter relações sexuais não protegidas com uma
prostituta, toda a gente disse que era", exemplificou.
Para
o sociólogo, os dados recolhidos "exigem encontrar uma estratégia de
grande perseverança na luta contra a sida".
O
estudo, realizado a 17 e 18 de Abril questionou mil indivíduos, com idades
entre os 15 e 69 anos de idade, residentes em Portugal continental, através de
entrevistas pessoais complementadas por um questionário confidencial, com uma
margem de erro de 3 por cento e nível de confiança de 95 por cento.
LUSA
30/04/2004 - 22:29
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