2.17.2013

Mensagem Alusiva ao 6º. Aniversário da ADASCA


Mensagem Alusiva ao 6º. Aniversário da ADASCA

Quando no mês de Julho do ano de 2006 fui confrontado com as condições a que os dadores ficaram sujeitos num determinado espaço nesta cidade, após o Hospital de Aveiro ter deixado de efectuar colheitas de sangue, o impulso que me invadiu e motivou a fundação desta associação para que tudo fizesse para alterar o estados de coisas a que estávamos sujeitos, a minha saúde mental não devia estar nas melhores condições.
Este não é o momento para dar a conhecer o historial da única associação de dadores de sangue com personalidade jurídica existente no Concelho de Aveiro. Devo dizer-vos que, estou em conflito com a minha consciência. Procuro uma solução para o dilema. As aparências confundem, vivemos demasiado preocupados com a imagem. Fica-se com percepção que o que conta é a imagem e não tanto os resultados do trabalho. Mandam a verdade e os factos que deixe claro que:

- É inacreditável o retrocesso que foi imposto por força da ganancia financeira do Ministro da Saúde quando decidiu retirar aos dadores o único incentivo e reconhecimento público pela dádiva de sangue. A reposição plena das taxas moderadoras aos dadores em todos os serviços do SNS transformou-se num problema demasiado sério, em que o Ministro da Tutela não quer resolver. Prefere recorrer aos apelos públicos a roçar o dramático, manipulando o sofrimento dos doentes e seus dos familiares do que servir-se da solução. Consideramos que é perfeitamente justa a reposição integral isenção, porque o sangue que doamos representa mais de 50 milhões € anuais para a economia do Estado, caso contrário teria de o comprar ao estrangeiro, se é que neste momento isso não está já a acontecer ao abrigo de segredo de Estado, porque a quebra foi bem superior aos 12% em 2012.

Não assistimos presencialmente ao debate sobre a Petição nº 89/XII/1ª no pretérito dia 16 de Janeiro, que visava a reposição dos incentivos retirados aos Dadores. Segundo nos foi transmitido, o espectáculo teatral a que assistiram colegas nossos nas galerias da AR, foi mais além do que a vergonha: foi humilhante. A notória falta de respeito das bancadas do PSD e CDS, as mesmas que rejeitaram a referida Petição, traduziu-se numa violação pelo princípio da dignidade do dador de sangue em todas as áreas. Para além da iniquidade do DL 113/2011 de 29 de Novembro e dos riscos que ele representa, a falta de respeito que ele traduz em relação aos sentimentos dadores de sangue, está montado e em marcha um negócio que, como está demonstrado, ninguém se atreve a defender com um mínimo de seriedade e convicção.

Autor da Imagem: 
Ricardo Carvalhal
Por sua vez o IPST secundariza os dadores, aliás, a questão da isenção das taxas moderadores deixou de ser assunto numa tentativa de branquear a escassez de sangue e componentes sanguíneos. Uma coisa é dizer o que se pensa e não querer dar a cara, como sucedeu quando o Presidente do IPST nos classificou de terroristas de sangue, vai fazer um ano, sem que tenha sido apresentado um pedido de desculpas.

Nesta data a ADASCA congrega cerca de 3188 dadores inscritos na qualidade de associados, sem que paguem qualquer valor de cotas ou jóias e ainda podem beneficiar de um vasto conjunto de Protocolos, extensivos aos seus familiares mais directos. Nós damos, o Ministro da saúde tira. Que paradoxo…

No ano transacto a ADASCA realizou 56 brigadas de colheitas de sangue, que se traduziu em 2497 inscritos, destes resultou cerca de 1942 dádivas aprovadas e 534 dadores suspensos. É verdade que podíamos ter ido mais além, se para tal houvesse motivação. Não podemos aceitar a contínua invenção de desculpas para justificar o injustificável, a ausência dos dadores dos locais de colheitas, tais como os custos dos combustíveis e deslocações entre outras, nada disso. Tanto o Ministro da Saúde como o IPST estão a colher os resultados de um DL cínico, iníquo e inaceitável, que a todos devia envergonhar.

A causa principal está associada com a retirada da isenção das taxas nos hospitais e pela forma como somos atendidos nos serviços do SNS, onde muitas vezes somos humilhados.

O ministério da saúde e por sua vez o IPST, que são tão rigorosos com as contas, numa lógica de contenção de despesas custe o que custar, já contabilizou porventura, quanto já poupou com o aluguer da Sede e Posto Fixo da ADASCA ao longo destes 6 anos, considerando que é o beneficiário directo com os resultados do nosso trabalho?

Estamos isentos de todas estas despesas e de outras, graças ao apoio incondicional da Câmara Municipal de Aveiro, caso contrário já nem existíamos por falta de apoios.

Os recursos humanos que têm sido disponibilizados ao longo destes 6 anos em prol da dádiva, com as despesas inerentes a tudo o que possamos pensar não podem ficar de fora. A causa é soberana, socialmente louvável porque tudo é feito em prol dos doentes. Estamos de acordo. Será mesmo assim? No ano transacto afirmei por diversas vezes que, o Ministro da Saúde com uma mão tira-nos o sangue, e com a outra vai-nos à carteira no momento em que somos obrigados a pagar os valores das taxas moderadoras onde não devíamos. Quanto é que já lucrou com esta imposição humilhante contra os dadores? Quiçá, uns trocos. Não nos classifique de heróis, porque na verdade o herói é o Ministro Saúde, pelo facto de não reconhecer publicamente erro que cometeu e a injustiça que está as ser praticada. Só há uma espécie de dadores: os que dão. E dar é um acto voluntário  que exige um decisão pessoal, consciente e assumida, que deve ser valorizada e reconhecida publicamente através da isenção das taxas moderadoras.

Admiravelmente o Estatuto do Dador de Sangue nem sequer ainda foi regulamentado como determina a Lei. Será que vai demorar tantos anos como o famigerado seguro do dador que já decorreram 22 anos sem que nada tenha sido feito de concreto? Isto não é evolução em prol do dador de sangue, fique claro, trata-se de um retrocesso.

O que está a acontecer nos Centros de Saúde do Distrito de Aveiro é inacreditável, trata-se de uma clara violação moral, um atentado aos direitos históricos, e aos sentimentos mais altruístas dos dadores, pelo que apelamos aos Srs. Deputados que muito nos honraram com a vossa presença neste 6º. Aniversário, tudo façam no que estiver ao alcance de cada um, no sentido de que a reposição da isenção que vimos reclamando seja uma realidade o mais breve possível, sob pena de sofrermos uma quebra de dádivas nunca antes registada no historial do IPS.

Nesta data, informamos que a ADASCA já apresentou três queixas junto das entidades competentes por forma a apurar responsabilidades pela cobrança das taxas moderadoras que vem sendo corrente nos Centros de Saúde do Distrito de Aveiro, pois não podemos ficar indiferentes a este injusto procedimento administrativo.

Termino esta mensagem com a seguinte frase: “O lobo talvez mude a pele, mas nunca a alma” Erasmo de Roterdão (1466-1536), é isso que sentimos, falta de confiança e de motivação.

Joaquim Carlos
Fundador/Presidente da Direcção da ADASCA

Aveiro, 16 de Fevereiro de 2013

NB: mensagem lida na cerimónia de comemoração do 6º. Aniversário da ADASCA

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