Aveiro: Há
quem queira os carros de volta à Rua Direita
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Inquérito feito pela Associação Comercial pergunta pela reabertura daquela artéria central ao trânsito (Autor da Imagem: Eduardo Pina) |
O
que provocou a desertificação da Rua Direita? Há explicações para todos os
gostos: a saída de serviços públicos, a perda de habitantes, a pedonalização da
via, a criação do Fórum Aveiro e de outros centros comerciais na cidade, a
quebra do poder de compra… Não há uma resposta única para explicar a decadência
daquela que foi outrora uma das principais artérias comerciais de Aveiro. Mas
perante o actual cenário de cada vez menos moradores, lojas ou clientes, há
quem procure soluções para reanimar a rua.
Uma
delas pode ser a reabertura ao trânsito, defendem alguns comerciantes. Paulo
Marques gostaria de ver carros a circular “dos CTT à Ponte-Praça” e disse-o num
inquérito que a Associação Comercial (ACA) promoveu junto dos lojistas locais.
A “grande maioria” dos comerciantes é a favor desta iniciativa, garante o
deputado municipal do CDS. Paulo Marques defende, porém, uma circulação
controlada, feita “a baixa velocidade” e sem acabar com a função pedonal da
rua.
Jaime
Ramos, dono de um café aberto há 30 anos, será dos poucos contra o regresso do
automóvel. “A única solução é trazer os serviços públicos de volta. Sem isso,
nada feito”. “O que há de diferente ou de único que obrigue alguém de Esgueira
ou de S. Bernardo a deslocar-se aqui?”, interroga.
Fernando
Marques, presidente da Junta de Freguesia da Glória, eleito pela coligação
PSD/CDS, é um dos defensores da reabertura ao trânsito. “Só não encabeço um
movimento para que os carros voltem a circular nas ruas que foram pedonalizadas
porque seria contrário à minha posição anterior”, disse em Assembleia
Municipal.
Jorge
Silva, presidente da ACA, não esconde “muitas preocupações” com a situação do
comércio na cidade, havendo “várias razões” para o actual definhamento. O
inquérito aos vendedores - ainda sem resultados divulgados - insere-se num
estudo que a associação tem em curso para fazer um diagnóstico rigoroso e
procurar saídas para a crise. A instituição lançou também o Cartão Espaço
Aveiro, no âmbito da Agência para a Modernização e Revitalização do Centro
Urbano, que garante vantagens aos clientes do comércio tradicional.
“NÃO
EXISTEM”
O
debate sobre o futuro da Rua Direita está aceso nos jornais ou nas redes
sociais. “Ao passar pela Rua Direita contei as lojas vazias. Desde o início,
nas pontes, até à Casa Martelo, contando com as da Praça Marquês de Pombal, são
19 lojas vazias. O que se passa com esta cidade? A crise não explica tudo”,
assinala Rosa Pinho, investigadora da Universidade de Aveiro (UA). A reabertura
aos automóveis não é solução. “No Fórum há sempre muita gente a andar a pé.
Falta ali um pólo de atracção: uma repartição pública movimentada, uma feira de
artesanato semanal, uns baloiços”. E critica o “culto do automóvel”, que “não
existe em mais nenhum país da Europa”.
Para
André Costa, membro da associação AgoraAveiro, “o problema não é certamente a
ausência do automóvel”. “A zona comercial mais activa em Aveiro é o Fórum, que
reúne três condições similares à Rua Direita: zona pedonal, estacionamento
subterrâneo pago, área central da cidade”. Então o que é o que o Fórum tem que
a Rua Direita não tem? “Estratégia de marketing profissional, lojas-âncora com
enorme capacidade de atracção, comerciantes com capacidade de se adaptarem por
obrigação da entidade gestora às necessidades da população”, responde.
André
Costa apela a um “trabalho concertado” da Câmara e da ACA, mas também à
“capacidade e vontade dos comerciantes se adaptarem à mudança”. Um dos
problemas, reconhece, é a dificuldade em encontrar lojas-âncora que queiram
investir. Mas acrescenta: “Nós também somos culpados, pois alterámos os nossos
hábitos e preferimos muitas vezes ir a grandes superfícies”.
A
Gonçalo Fonseca, da empresa que durante oito meses explorou a esplanada na
Praça Marquês de Pombal, o regresso dos automóveis parece uma “má ideia”. A
escassez de clientes inviabilizou o negócio. “Todos os meses foi necessário
pagar o que a falta de pessoas não pagou”, diz o deputado municipal do PS.
“Estas são as alturas em que as entidades públicas e associativas mais devem
intervir, porque é manifesta a incapacidade de consumo, porque os comerciantes
não têm margem para pagar nem uma iluminação”, assinala. “Os comerciantes não
se devem pendurar em ninguém, mas devem ser tratados como agentes económicos
fundamentais para uma boa vivência urbana”.
Gonçalo
Fonseca critica a ACA e a Câmara. “Não existem”, avalia, sustentando que
“grande parte do que se pode fazer custa muito pouco dinheiro ou nenhum”.
TERCEIRA
VIA
Sugestões
não faltam para dinamizar a rua, como a instalação de um parque infantil na
Praça Marquês de Pombal. “Em cidades como Milão e Turim as galerias comerciais
são uma animação. A Rua Direita podia ter uma cobertura e ser um espaço de
passeio com conforto”, propõe, por sua vez, Luís Souto, ex-presidente da
Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de
Aveiro.
José
Carlos Mota, investigador da UA na área do planeamento, pede que se encare uma
terceira via. “Quando se discute o futuro da Rua Direita surgem normalmente
dois tipos de propostas: a do regresso ao passado (da rua comercial
fervilhante) e a da aproximação ao modelo Fórum”. No entanto, “nenhuma delas é,
neste momento, possível, quer por falta de investidores/consumidores, quer
porque o modelo de gestão e de propriedade não são compatíveis”. O docente
defende, por isso, uma “outra função, que não só a comercial”, para a rua,
remetendo para “experiências interessantes” noutras cidades do mundo de acordo
com o lema “low-cost” e “alto impacto”.
Jornalista: Rui Cunha
Edição de: Terça,
Fevereiro 5, 2013
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