"Um dador pode dar sangue em Viana do Castelo, depois em Coimbra, de manhã, e em Lisboa, à tarde, quando só o podia fazer uma vez a cada três meses. Isso pode acontecer porque a prometida uniformização das bases de dados ainda não foi feita", disse à Lusa José Passos, presidente da Associação de Dadores de Sangue do Distrito de Viana do Castelo.
O responsável recorda que, atualmente, cada hospital tem a sua própria base de dados de dadores, que depois também é gerida regionalmente, entre Norte, Centro e Sul, pelo Instituto Português do Sangue.
"Até hoje não foi dada a prioridade a este assunto, como aconteceu para cobrarem taxas moderadoras a dadores de sangue", garante José Passos.
Ainda no distrito de Viana do Castelo, Daniel Pereira, porta-voz das cinco principais associações de dadores da região, que asseguram cerca de 9.000 dádivas anuais, assume idêntica critica.
"A uniformização das bases de dados pelo Instituto Português do Sangue tem sido uma luta nossa, mas infelizmente ainda sem sucesso. Isso seria importantíssimo para assegurar a correta mobilidade dos dadores, para não estarem presos a terem de ir fazer a recolha ao seu distrito, por questões de organização", explica.
Falando em nome das Associações de Dadores de Sangue de Paredes de Coura, Areosa e Meadela (Viana do Castelo), Caminha e Ponte de Lima, Daniel Pereira admite que o distrito ainda não recuperou totalmente das quebras do inicio do ano, depois do fim da isenção total no pagamento das taxas moderadoras.
Em Guimarães, concelho onde a associação local garantiu, em 2011, um total de 6.270 dádivas, Alberto Mota não tem dúvidas em colocar a fasquia das quebras, para já, nos 25 por cento.
"Mas só teremos uma noção da realidade a partir do quarto mês, porque nos homens as dádivas podem ser feitas a cada três meses. Daí que muitos podem começar a agora a falhar ao ciclo da dádiva seguinte", explicou o presidente da Associação de Dadores de Sangue de Guimarães, onde estão inscritos 4.070 pessoas.
Também a Associação dos Dadores de Sangue do Concelho de Aveiro (ADACASA), na mensagem a propósito do Dia Nacional do Dador de Sangue, manifesta o seu descontentamento e aponta as queixas que tem recebido.
"Muitos [dadores] declaram mesmo que vão deixar de doar sangue porque se sentem explorados ou enganados", refere a ADASCA, acrescentando: "o Ministério da Saúde, com a imposição destas regras, esqueceu-se da parte mais importante: as motivações que levam as pessoas a doar sangue e a sua mais valia social".
O Dia Nacional do Dador de Sangue é hoje assinalado com uma cerimónia com a presença do ministro da Saúde, Paulo Macedo, e que tem a particularidade de ser a primeira realizada desde a fusão do Instituto Português do Sangue com os centros de Histocomptabilidade, formando o Instituto de Português do Sangue e da Transplantação (IPST).
A polémica com as associações de dadores de sangue surgiu no início do ano, por causa do fim da isenção nas taxas moderadoras nos serviços públicos de saúde de que os dadores beneficiavam.
À redução do número de dádivas de sangue seguiram-se os apelos às dádivas, uma situação que levou mesmo o presidente do IPST a ser chamado ao Parlamento para ser questionado na Comissão de Saúde.
Na Assembleia da República, Helder Trindade, disse não ter explicação para a quebra nas reservas, mas avançou com hipóteses prováveis como o protesto pelos cortes nas taxas moderadoras e pela destruição de lotes não utilizados, além do surto de gripe registado durante o inverno.
Em fevereiro, registaram-se menos 3.000 dádivas de sangue do que no mesmo mês do ano anterior.
Fonte: Lusa
23/03/2012
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