Desagrado de
um ex-funcionário do IPST
Ex.º Senhores,
Fiquei
muito desapontado com a notícia que acabei de ver em vários telejornais e de
ler em alguns jornais. "O apelo a dádiva de sague", feito pelo
presidente do Instituto Português do Sangue a da Transplantação, o Sr.
Professor Hélder Trindade.
Face
a algumas inverdades, achei por bem repor a verdade. É verdade que
efectivamente as dádivas de sangue baixaram muito este ano, principalmente a
partir do dia 1 de Janeiro de 2014, ele veio dizer que era por causa da gripe,
da emigração e do mau tempo, mas esqueceu-se de falar do cancelamento e
adiamento de recolhas de sangue, que cada centro do IPST está obrigado a fazer
por falta de recursos humanos, a perda da isenção das taxas moderadores que
foram cortadas aos dadores de sangue nos hospitais é uma das causas principais.
Neste
momento por exemplo, vários carros e autocarros estão parados porque não têm
motoristas para os conduzir, e estão a alugar autocarros a rodoviária (cerca de
300€ cada um) diariamente. Sendo ao fim de semana o ponto mais forte onde por
vezes alugam mais de 15 autocarros, sem condições nenhumas de transporte de
sangue.
Em
Setembro de 2013 o presidente do instituto veio ter uma reunião com os
funcionários contratados, onde foi dito que ninguém iria ser despedido dos
centros regionais, veio apelar também ao esforço destes mesmos contratados,
para fazerem, mais e melhor, (sem mais nenhumas regalias), e em dezembro
despediram cerca de 80 funcionários.
Em
janeiro de 2014, pediram a vários funcionários, estes a recibo verdes, para
irem trabalhar sem saber se iriam receber o ordenado, porque ainda não tinha
chegado a autorização, estão a subcarregar todos os funcionários que lá
continuam fazendo muito mais horas do que o normal, fazer turnos seguidos,
exigir que efetuem tarefas que não fazem parte das carreiras.
Despediram
também vários administrativos e agora desde o início deste ano contrataram mais
uma empresa que esta a fazer o trabalho desses administrativos que foram
despedidos, essa empresa só esta a contactar os dadores de sangue através de
chamadas e mensagens para irem dar sangue, essa empresa tem acesso a dados
confidenciais de cada dador, identificam-se como Instituto Português do Sangue
e da Transplantação, esta empresa custa 18 mil euros por mês, dito pelo próprio
presidente numa das reuniões que teve com os trabalhadores que agora despediu a
pedir nessas reuniões para nos esforçarmos ao máximo para continuarmos na
instituição.
Todos
os funcionários que foram despedidos tinham horas a mais que nunca pagaram,
tinham dias de férias por gozar, mais uma vez dito pelos chefes dos serviços
que se não marcássemos as férias que as empresas nos iam pagar, coisa que a
partir de agosto de 2012 deixou de acontecer, etc., etc., etc.
Eu
próprio fui despedido no dia 31 de dezembro com a promessa, feita por esse
senhor professor, de que seria só por alguns dias, e já la vão quase 3 meses. A
falta de recursos humanos já fez faltar sangue nos hospitais e várias operações
que tiveram de ser adiadas. Há um funcionário dessa instituição a 10 anos
entraram para o IPST no dia 1 de setembro de 2003 com um contrato de três meses
mais três meses, renovável ate 2 anos, não tendo assinado mais nenhum. No mês
de agosto de 2007 foi pedido a todos os funcionários contratados que assinassem
por empresas de trabalho temporário por apenas 3 meses e que em janeiro de 2008
iria abrir um concurso para legalizar a situação de todos.
Ninguém
aceitou essas condições, porque deixavam de pagar horas que fazíamos a mais,
ajudas de custo, etc., e, estavam a pagar a uma empresa de trabalho temporário
dois ordenados e meio a mais do que aquilo que nos pagavam a nos. O presidente
na altura pediu encarecidamente para aceitar estas condições porque o instituto
precisava de nos, senão aceitássemos o instituto tinha de parar as recolhas
facto que esta acontecer neste momento.
E
ficamos com esses contratos até dezembro de 2013, só fomos despedidos porque o
tribunal de contas chumbou o pagamento a essas empresas de trabalho temporário
(Acórdão N.º 28 /2013, de 14 novembro), dizendo que não eramos assim tão
temporários como isso uma vez que já la estávamos a mais de 2 anos a tempo
inteiro e que ficava muito mais caro ao instituto pagar as empresas do que
fazer contratos diretamente entre os funcionários e a instituição.
O
Sr. presidente Hélder Trindade veio mais uma vez dizer que era uma situação provisória, então tentaram nos voltar a chamar através do centro de emprego com
um contrato de emprego e inserção de trabalho o qual o centro de emprego disse
que só podiam ser chamados funcionários que não tinham trabalhado para la no último
ano, então o IPST cancelou o pedido destes contratos, porque queriam os mesmos
funcionários que despediram. Gostaria mesmo muito de tornar isto púbico, para
repor toda a verdade sobre o apelo a dádiva de sangue feito pelo presidente
deste instituto.
Comentários:
o autor deste texto foi funcionário no referido instituto, ali exerceu funções
durante 10 anos, conforme declarações suas, por recear represálias, optou por
não fornecer elementos de identificação.
É
lamentável que se respire uma atmosfera de medo num País que conheceu um golpe
de estado há 40 anos e, que a partir dai toda a gente diz, que se vive em democracia,
liberdade de pensamento, de expressão.
Se foram despedidos funcionários, houve necessidade de reduzir o número de brigadas, logo, os resultados reflectem-se nas dádivas de sangue recolhidas. Não se faz omelete sem quebrar os ovos, ou será que sim?
Artigo 37.º
Liberdade de expressão e informação
1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar
livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro
meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos
nem discriminações.
2.
O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo
ou forma de censura.
3.
As infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos
princípios gerais de direito criminal ou do ilícito de mera ordenação social,
sendo a sua apreciação respectivamente da competência dos tribunais judiciais
ou de entidade administrativa independente, nos termos da lei.
4.
A todas as pessoas, singulares ou colectivas, é assegurado, em condições de
igualdade e eficácia, o direito de resposta e de rectificação, bem como o
direito a indemnização pelos danos sofridos. sic
Será que a Constituição da República Portuguesa passou a ser um livro de conto de fadas ou
narrativas? Pior ainda: um livro de romance? Pelo que nos é dado observar, o
medo de falar, está de novo instalado nas instituições do Estado, sim, as
tais que são suportadas pelos impostos de todos nós. Sinto-me profundamente incomodado com o que estamos a assistir, sem que ninguém com funções governativas assuma a responsabilidade pelas decisões que são tomadas no conforto dos seus gabinetes.
Esta
atmosfera bafienta, com suspiros de Salazarismo tem que ser erradicada o mais rapidamente possível, não
podemos ficar de braços cruzados. Malditos cravos, aqueles que foram colocados
no cano das espingardas G3.
Acorda
POVO enquanto é tempo.
Postado
por Joaquim Carlos
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