7.04.2012

Será o dador de sangue um herói? Herói é o ministro da saúde

A comemoração do dia Mundial do Dador de Sangue este ano teve como lema: “Cada dador de sangue é um herói”, creio ter sido o lema escolhido pelo Comissário Dalli.

Em que País da União Europeia cada dador é assim considerado e respeitado? Em Portugal, garantidamente que não, por cá tiram-nos o sangue com uma mão e com a outra vão-nos á carteira obrigando-nos a pagar as taxas moderadoras nos hospitais, quando estes necessitam do nosso precioso líquido. Em Portugal os dadores de sangue não são vistos como heróis, mas como elementos duma economia de escala, triturando a pouca dignidade que nos assiste.

A palavra herói é demasiada grave para ser usada e abusada pelos políticos que habitam em cada carteira do dador de sangue. Movido pela curiosidade do conceito de herói decidi consultar o dicionário complementar de Augusto Moreno a fim de compreender o seu real significado ficando a saber que um Herói é: “Homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras, pelo seu valor ou magnanimidade; protagonista de uma obra literária; (…) Homem ilustre por feitos de grande coragem”.

Pela forma como os dadores começaram a ser tratados pelo ministério da saúde, através da aplicação do Decreto-lei nº. 113/2011 de 29 de Novembro, somos levados a crer que não somos assim tão necessários. A ser verdade, porque nos incomodam tanto para doarmos sangue e sensibilizar outros a fazê-lo? Os dadores que doaram sangue regularmente nos hospitais durante anos, e os que ainda o fazem, no caso de necessitarem de cuidados médicos urgentes, é justo pagarem para lhes tratarem da saúde? Mesmo que se trate de episodio pontual? Não devia ser ele tratado como um herói?

Dador que é dador de sangue, atendendo à delicadeza das suas motivações solidárias, sempre com o seu pensamento centrado no doente que dele necessita, sente-se naturalmente indignado com este género de tratamento, quando na verdade devia ser o SNS a tratá-lo de forma empenhada, para que o sujeito volte a doar sangue de novo o mais breve possível.

Quiçá sejamos mais heróis pela paciência que nos assiste, e não tanto pelo gesto solidário que possa encerrar. Herói é o ministro da saúde pela coragem e determinação que tem evidenciado em manter a obrigatoriedade aos dadores no pagamento dos valores das taxas moderadoras, quando estes deviam estar isentos, sentindo-se motivados a comparecer nos locais de colheitas.

O erro legislativo cometido pelo ministro em questão não pode ser imputado aos inocentes, a saber: dadores de sangue e suas associações.

A solução está nas suas mãos, sem mais argumentações: reponha a isenção e terá os dadores de regresso. Quando isso acontecer, o herói é o ministro da saúde e não os dadores ou movimento associativo. Quer queiramos ou não, a actual situação deve ser imputada ao seu autor moral e material. Esta é a verdade crua e nua que deve ser assumida.

As qualidades de um verdadeiro herói são a força moral, a coragem e a disposição para ajudar os outros. Os heróis que perduram através dos tempos são aqueles que ajudam a libertar as pessoas da doença, pobreza ou da fome. O ministro da saúde vai ficar para a história como um herói, numa versão diferente, infeliz.

Joaquim Carlos

*Fundador/Presidente da Direcção da ADASCA – Site: www.adasca.pt

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