EÇA DE QUEIRÓS, ANO DA
GRAÇA DE 1871
"Estamos
perdidos há muito tempo... O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada. Os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que
não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se
respeita.
Não
há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens
públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se
progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria.
Os
serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado
na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste
rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte, o país
está perdido! Algum opositor do actual governo? Não! "
Eça
de Queirós, Revista "Farpas" (1871)
Eça
de Queirós sempre actual!
Provavelmente
já todos receberam um e-mail com o conteúdo que aqui coloco. Mas dada a sua
oportunidade, não pude deixar de o divulgar mais uma vez.
Textos
adaptados à nossa realidade... e retirados de escritos de Eça de Queirós
"Em
Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta
igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois
factos que constituem o movimento político das nações. A ciência de governar é
neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela
paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo
interesse. A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades
contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou
pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos
sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de
generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam
os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há
a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A
refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se,
corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades
se entrechocam ali com dor e com raiva. À escalada sobem todos os homens
inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena,
ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro,
insaciáveis dos gozos da vaidade."
in
'Distrito de Évora" 1867
"Nós
estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma
indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de
carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas
quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá
vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e
Portugal"
in
” As Farpas” 1871
O chamado "clube dos cinco", em 1884: da esquerda para a direita, Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Anthero de Quental, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro. |
"Um
povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo,
burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes
de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois
que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia
ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um
povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua
inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro
em silêncio escuro de lagoa morta.
[…]
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando
já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que,
honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e
sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a
indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no
Limoeiro […]
Um
poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador;
e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
[…]
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela
saca-rolhas;
Dois
partidos […] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, […] vivendo
ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras,
idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não
se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar…"
Guerra
Junqueiro, "Pátria" (1896)
"O
bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: porque, cada um pensa estar
tão bem provido do mesmo que até os mais difíceis de contentar com outros bens
quaisquer, não têm costume de desejar mais senso do que aquele que já
possuem."
Descarte
“O que temos
hoje, infelizmente, é um governo desastrado, de corrupção, escândalos, que
consagrou a incompetência administrativa nesses anos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário