10.19.2010

LIBERDADE

Liberdade é a palavra mágica que nos faz vibrar de entusiasmo ao pronuncia-la; é grito de alma que faz querer à vida duplamente, quando possuímos raciocínio bastante para compreender a altura do seu real significado.
Liberdade é ter consciência de saber pensar, exprimir e operar sem ser coagido por influências internas ou externas; é procurar conhecer onde está a verdade sem ser escravo de preconceitos ou ideologias falsas.
Ser livre é não ter receio da opinião dos outros; é agir de cabeça erguida, quando a consciência nos diz que estamos trilhando o caminho do direito e da razão.
Liberdade não é anarquia nem desordem; liberdade é ordem condicionada à responsabilidade e aos direitos individuais e colectivos.
Julgam muitos, porém, que a liberdade consiste em efectuar qualquer acto apenas impulsionado por um desejo ou capricho, sem atender à razão e aos deveres cívicos e morais.
Quem assim pensa não é livre, mas, sim verdadeiro escravo dos instintos selváticos que herdou, por atavismo, dos seus antepassados pré-históricos.
Ser livre é ter consciência de querer ou não querer; é pesar os próprios actos com inteligência e não agir sem prévia reflexão sobre a responsabilidade que lhe cabe como ser pensante.
Aquele que não pensa, que não quer ou não sabe raciocinar, que não tem força suficiente para refrear os seus ímpetos, não pode merecer o título de homem livre e civilizado. É incapaz de compreender o verdadeiro sentido da palavra "Liberdade", pois se compreendesse sabia que ser livre é, antes de tudo, ser senhor de si mesmo, é vencer a tirania das paixões e dos maus instintos, é não ser escravo da preguiça, da cólera, da gula ou do álcool.Só tem direito a ser homem livre aquele que não pratica acções que prejudiquem o seu semelhante, aquele que possui formação interior que o torne responsável pelos actos.
Quem dera que todos pudessem ser livres, que todos sentissem a necessidade da verdadeira independência e compreendessem os direitos sagrados que cabem ao homem, quando verdadeiramente integrado na grandeza da sua personalidade intelectual e moral!
Quem dera que todos se libertassem da escravidão do vício, que possuíssem elevação de espírito capaz de quebrar as algemas que os prendem demasiadamente à matéria!
Quando assim acontecer, o homem será verdadeiramente livre e poderá erguer, bem alto, para iluminar o Mundo, o farol grandioso da "Liberdade".
O poeta alemão Peter Hille (falecido em 1904) considerava como limites únicos à liberdade as dependências do homem em relação "à fome, à doença e à polícia". A polícia significa, neste caso, as barreiras que a comunidade impõe ao indivíduo. Nascendo e crescendo no seio da família, o homem passa logo a ser um ente comunitário. Há-de sempre procurar a segurança de que beneficia ou que lhe faltou em criança. Para a conseguir limitará, muitas vezes voluntariamente a sua necessidade de liberdade.
Muito mais fortemente do que pelas coacções exteriores ou pelas considerações sociais, o homem é limitado pelas inibições que a educação lhe inculca. Já não as sente como originadas em antigas interdições do seu próprio supereu.
Conclusão: entre a liberdade pessoal e a obediência social, muitos indivíduos escolhem de modo unívoco a rebelião, e, na maioria dos casos, fracassam. Outros escolhem a segurança dos "carneiros" integrados no rebanho. Mas geralmente isso não deixa a impressão de que "não há influência exterior que obrigue o homem a converter-se em térmita", como dizia Freud, para quem a questão do conflito entre as pretensões individuais e as das massas depende essencialmente do destino.

Autor: Joaquim M. C. Carlos
Fonte: Este artigo foi publicado no extinto "Jornal de Aveiro" no dia -3-10-91, no Espaço Reflexões, sendo na altura o seu Director o Jornalista Brissos da Fonseca.

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