Na luta da vida o homem prepara as armas morais que lhe são convenientes para a vitória, ou para a resistência. Uns são activos, arrogantes, lutadores, outros, passivos, tímidos, geniosos, não gastam esforços para o bom êxito na vida. Os bajuladores acham-se entre os segundos, porque com a adulação entre os segundos, porque com a adulação, acariciam o mérito de alguém para daí tirar proveitos e interesses mediatos ou imediatos.
Na existência uns nasceram para mandar, outros para serem mandados, e os que usam da lisonja com baixeza são obedientes, turiferarios, ladinos, em suma, para empregar o brasileirismo corrente, engrossadores. Na política, nas repartições públicas, nos corpos armados, no jornalismo, na vida comum há indivíduos que se humilham instintivamente para gozar vantagens mais ou menos claras, ou ocultas.
Rodolfo Teófilo, em livro muito interessante, “memorias de um engrossador”, traça com singeleza e carinho o perfil do lisonjeiro escorregadiço e profissional.
“A parte mais difícil da arte de engrossar, como chamarei ao modo de bem viver em todos os meios, é escolher o momento psicológico de queimar incenso ao ídolo”.
É assim. O jeito, a graça do bajulante estão na oportunidade de adular para locupletar-se com o que deseja ou ambiciona.
A lisonja é a bajulação mais fina, apresenta doçura e arte, graça e algo de subtil e artístico. Às vezes mistura-se com a ironia e em muita ocasião se torna difícil separar as duas. A bajulação é pesada, aberta, sistemática e ostensiva.
O engressador demonstra-se pelos gestos subservientes e elogios incondicionais e absolutos. As côrtes foram as latas escolas dos aduladores e do servilismo clássico.
Há na bajulação fenómenos psicológicos de defesa: o indivíduo não tem capacidade e força para lutar, em consequência, apega-se às armas dos louvores incondicionais, e com a docilidade escravizadora visa os proventos que lhe acariciam a alma cúpida e deslavada.
A subserviência abissínia de muitos políticos traceja a clássica forma dos aduladores. No mandante, ou caudilho descobrem-se talentos, sagacias finuras políticas raras e glorificadoras. E quanto mais maltratados, mais dobram a cervix, os asséclas e os engrossadores, porque só assim conseguem desejos e vinganças, posições e privilégios, sobretudo as simpatias electivas do dirigente.
Creio que o verbo mais querido da maior parte dos políticos do mundo inteiro é engrossar. Os exemplos clássicos da História, ao tempo de Roma ou mesmo na época moderna, podem ser citados a título de curiosidade. Os louvores a César, Nero, Calígula, os miseráveis bajuladores do tempo da Inquisição, as intrigas e adulações da época de Luís XIV, Luís XV, enfim todo o resumo da vida das cortes demonstram a caudal crescente, suave e melosa dos aduladores cortesãos de raça, de fina ou baixa escola.
A bajulação é uma arma de luta biológica e sociológica. A natureza ensina às espécies fracos processos de defesa entre eles o mimetismo, ou imitação, o homocromismo, ou semelhança de cores, para livrarem-se dos inimigos, o comensalismo, a simbiose, o parasitismo etc. O bajulador copia instintivamente dos métodos naturais os que lhe parecem mais fáceis e que despendem menos esforço para vencer.
Carneiros de Panurgo formam o exército de lisonjeiros e dos engrossadores e o amor à conquista por meio da bajulação soez tem feito muita fortuna moral, muita riqueza pingue entre os sequazes dos políticões.
O bajulador é um sabidoiro. Lucra sempre e só se humilha para visar vantagens. Às vezes sai logrado, porque os ademanes coleantes, os elogios fartos e as excessivas loas, acabam muita vez enojando o ídolo.
Os bajuladores possuem armas auxiliares tais como: intrigas, mentira, hipocrisia, falas solicitude e as lágrimas de crocodilo.
O louvaminheiro venal é às vezes um artista, pois conhece o ponto fraco do ídolo, a corda sensível dos governantes, a tecla sonora dos proveitos. Macio, escravo, paciente, tudo suporta para conseguir a mira dos desejos, e a colheita das suas artimanhas. Depois comete ingratidões ou não, isto é secundário, o principal é conseguir, por qualquer meio, contando que logre vantagens.
A falsa humildade dele para os grandes, muita vez oculta a arrogância para os pequenos, a vingança para os indefesos, e a trapaça para os inocentes.
O bajulador é um vitorioso original, embora o triunfo lhe seja de misérias e hipocrisias.
*(Jornalista C.T.E. nº. 525)
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