Sei que
muitos poderão ficar chateados, mas as verdades são para se dizer...
Hoje
em dia, ser bombeiro é ser aquela personagem que veste de vermelho e que
aparece para apagar o fogo nas nossas aldeias; é aquele indivíduo que aparece
quando ligamos para o 112 a pedir uma ambulância. O que infelizmente os
populares não sabem é que somos muito mais que isso!
Alias,
já os mais antigos recordam o velho ditado “só se lembram de Santa Bárbara
quando troveja” e é bem verdade! Se os bombeiros andam cansados de apagar o
fogo, têm pena e oferecem-lhes umas garrafas de água ou umas maçãs. Mas, então,
quando não há fogos, o que lhes oferecem? Ingratidões, por vezes? Resmunguices
e impropérios?
Quem
é bombeiro sabe o quão gratificante é ver reconhecido o seu trabalho, seja por
um sorriso na cara do doente que estamos a assistir, seja por ver o fogo
apagado que tanto suor causou… Não há ninguém, por mais modesto que seja, que
não aprecie este louvor! E que bem que faz, que nos eleva a auto-estima, que
nos torna mais confiantes para continuar a fazer aquilo que tão bem fazemos!
Mas
então… no resto do ano cá estamos, pelo quartel, esperando que o telefone
toque, ouvindo a chuva cair sobre as chapas, ao calor da lareira. E palavras de
apoio, de agradecimento, por onde andam elas?
O
telefone toca, saímos. Luzes azuis a invadir a noite escura, chuvosa, e quando
chegamos ao local onde somos necessários, somos recebidos com as ingratidões de
quem nos espera. Ou porque demorámos muito tempo, ou porque somos mal-educados,
mil e uma desculpas são utilizadas incontavelmente.
Palavras
gratificantes? Gestos solidários? O que é isso?
Andar
debaixo de chuva. Cortes de árvores, desobstruções de via, inundações,
acidentes, todos se lembram dos bombeiros mas ninguém se lembra de dizer
“obrigado, Sr. bombeiro!”. Ninguém se lembra de passar no quartel dos bombeiros
da área de residência e deixar um euro, ou de agradecer o trabalho que fazemos.
Será
que só precisamos de apoio no verão? Ou será que é só no verão que somos
bombeiros? (Acredito que sirva a carapuça a alguns…) Assim sendo, a partir de
Outubro/Novembro vamos voltar à ignorância e ao “fundo do baú”, onde continuam
a teimar em procurar apenas quando de nós precisam?…
Sou
bombeiro, de inverno, de verão, de todo o ano. E cá estou, voluntário, para o
ajudar a si, Sr. cidadão, sempre que precisar. Mas peço-lhe: guarde as suas
revoltas; receber-nos de mau agrado, é algo que dispensamos.
E
lembre-se de nós, Sr. cidadão, que estamos cá todo o ano, pois o telefone não
deixa de tocar quando se acabam os fogos.
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