6.14.2013

Dia Mundial do Dador de Sangue e a falta de respeito pelo dador

Dia Mundial do Dador de Sangue e a falta de respeito pelo dador


Panorama do Posto Fixo da ADASCA localizado no Mercado Municipal de Santiago
De acordo com um comunicado emitido pela OMS por ocasião do Dia Mundial do Dador de Sangue, a assinalar-se hoje (a 14 de Junho), o esforço feito pelas autoridades e organizações da sociedade civil na doação voluntária e não remunerada de sangue é essencial para a salvação de doentes, mas, sobre o respeito pela pessoa do dador benévolo de sangue nem uma referência.

“ Os dadores voluntários regulares são as fontes mais seguras de sangue, uma vez que existem menos infecções transmitidas pelo sangue neste grupo, em relação aos familiares dos pacientes ou pessoas que doam sangue a troco de remuneração”, afirma, embora eu tenha sérias dúvidas sobre este ponto de vista, tendo em conta que o estilo de vida do dador é realçar, quiçá não tanto o valor monetário.

A Associação de Dadores de Sangue do Concelho de Aveiro – ADASCA sustenta que as campanhas de informação deveriam enfatizar os aspectos sociais e clínicos positivos neutralizando os aspectos negativos relativos á dádiva de sangue. Um passo especialmente importante para transformar o não dador em dador seria a concentração de esforços durante a primeira doação e o uso desta oportunidade para a conversão destes em dadores regulares, através da persuasão, do atendimento e das informações prestadas a respeito de todos os procedimentos, o que nem sempre acontece. O dador só é recordado nas datas para doar sangue.

Porém, muitas perguntas permanecem sem respostas na área dos atributos motivacionais relacionados à doação de sangue. A meta final, certamente, é a melhoria das técnicas de recrutamento de dadores; o aumento do número de dadores e o conhecimento das razões dos não doadores, a ADASCA está nesse caminho. Entretanto, busca-se ressaltar a influência da confiança do dador na instituição, enfatizando a interacção de serviço com o potencial dador através de incentivos à dádiva a começar pela reposição das taxas moderadoras nos hospitais públicos e privados, que tarda em ser reconhecida como a principal causa da quebra de dádivas desde que entrou em vigor o iníquo DL 113/2011 de 29 de Novembro, cujo objectivo primário é fazer dinheiro à conta de quem já é solidário.

A preocupação com o relacionamento, com a fidelização dos dadores e, principalmente, com o estabelecimento de relações mais fortes é tarefa primordial da ADASCA, e o que assistimos é claramente ao contrário nas instituições do SNS. A oferta apropriada de serviços pode ser estabelecida à parte da rotina de interacção e consiste de quatro componentes: espontaneidade, sinceridade, reconhecimento público e consistência.

Os dadores de sangue não se sentem respeitados no Serviço Nacional de Saúde, onde são muitas das vezes coagidos a pagar valores referentes às famigeradas taxas moderadoras quando não deviam, sentindo-se assim penalizados pelo facto de serem solidários. Provavelmente só em Portugal é que isto acontece.

Na qualidade dador regular de sangue (há quase 36 anos) e como presidente da Direcção da ADASCA, sinto-me cansado, magoado com certas atitudes vs. procedimentos administrativos que são praticados no interior dos gabinetes que coordenam as brigadas, o que me leva a dizer que não há vergonha, há sim interesses.

Sinto que não existe respeito por quem trabalha na promoção da dádiva de sangue no terreno. Em nome dos doentes impera a vingança pessoal, a traição, a bajulice e a manutenção de interesses pouco claros. Tenho pela minha frente uma notória falta de ética e escrúpulos, isto é doloroso. Não há vergonha, há interesses que devem ser defendidos custe o que custar por uns quantos senhores dominadores no mundo da dádiva de sangue.

Em Aveiro e arredores a ADASCA tem vindo a desenvolver um intenso trabalho de sensibilização para a dádiva de sangue nem sempre valorizado por quem de direito. Para quê tanto esforço e dedicação? Um trabalha, os outros que nada fazem são os principais beneficiários. Não há vergonha, há interesses a defender a favor de uns poucos do tipo Jet-set.

Será que não existe ninguém no Conselho Directivo do IPST que ponha termo a este procedimento tão vil? Se não existe ninguém estamos mal, aliás, de mal para pior. Com este tratamento, não adianta comparecer nas reuniões vs. cerimónias venham os convites de onde vier.

Por causa de procedimentos destes e outros que nem são conhecidos, é que o País está como está. Faliu o sentido de responsabilidade, como ainda a confiança nas instituições públicas e nas pessoas que nos impõem deveres e mais deveres. Em que quem os dadores de sangue devem confiar?

Neste dia em que se comemora um pouco por todo o lado o Dia Mundial do Dador de Sangue, a ADASCA não vai estar uma vez mais presente na cerimónia que vai decorrer em Oeiras. Dispensamos discursos de circunstância, se exprimidos nem pinga de sumo deitam, mas, falam em nome de que nem sequer está presente.

O nosso tempo é mais precioso nos preparativos para a realização da II Caminhada Solidária da ADASCA, que vai acontecer no dia 16 (domingo próximo) com uma largada de balões pretos num gesto de descontentamento pela não reposição das taxas moderadoras aos dadores de sangue nos hospitais, como ainda pela falta de regulamentação do Estatuto Nacional do Dador de Sangue.

O ministro da saúde e os seus secretários de estado deviam sentir-se incomodados (envergonhados) quando fazem questão de comemorar esta data tão significante com os dadores, tendo em conta que, com uma mão tiram-nos o sangue e com a outra vão-nos à carteira, só assim se encontra uma explicação para os 105 milhões de euros que os hospitais devem ao Instituto Português do Sangue. Os dadores dão assim tanto prejuízo?

Pedimos a reposição das taxas moderadoras nos hospitais públicos e privados à semelhança do passado recente, como ainda a regulamentação do Estatuto Nacional de Sangue, e finalmente o seguro do dador que há mais 20 anos aguarda pela oportunidade de se tornar uma realidade.

Desde Janeiro do ano em curso a ADASCA realizou 35 Brigadas para colheitas de sangue, destas resultaram um total de 1209 inscritos, 977 dádivas aprovadas, 215 suspensos vs. adiados e 17 eliminações definitivas, representando cerca de 3281 dadores associados de pelo direito, em 6 anos e 5 meses de existência. Tanto trabalho, dedicação para quê se não há quem nos respeite e valorize? Haja ao menos respeito.

Cordialmente,
Joaquim Carlos
Fundador/Presidente da Direcção da ADASCA


Aveiro, 14 de Junho de 2013
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=543193&tm=8&layout=122&visual=61 (terroristas de sangue, declarações do Hélder Trindade).

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