2.19.2012

Conceito Social dos Gesticuladores e Falantes

Por Joaquim M. C. Carlos *

Os gesticuladores são homens expansivos e enfáticos. Em regra falastrões, procuram por todos os meios levar os seus ouvintes à convicção das suas narrativas, pelo exagero das palavras, pela abundância de gestos, metáforas e hipérboles frequentes.

Os gesticuladores são de imaginação fácil, facúndia barata, conduzem-se no meio em que vivem, ou predominam procurando salientar-se e manter prestígio. Os gesticuladores revelam-se frequentemente irritadiços, instáveis, mudam de humor e ideias com facilidade. Às vezes, apaixonam-se pelas causas que abraçam, e tornam-se mitingueiros, arruaceiros de verborragia inflamada, agitadores de massas populares, e lardeiam o falso prestígio por toda parte. Inteligentes, ou medíocres, possuem a facilidade de palavras, que lhes saem dos lábios desconexas ou não, brilhantes ou simples mistiforios de tropos baratos ou ridículos. A entonação do verbo anda paralelamente á abundância de gestos; e cabeça, braços, corpo, tudo se move em benefício das expressões enfáticas dos gesticuladores.

Muitos são movediços e instáveis. Não esquentam lugares, como se diz vulgarmente, e agitadores de acção não podem ficar sossegados em um teatro, em qualquer assembleia, no meio em que lhes seja solicitada a atenção. Muitas vezes são mungangueiros, e cheios de cacoetes e mocicas, disfarçam com outros gestos os tiques de que são tomados. Vários pensam alto, isto é, falam sozinhos; gesticulam pensando em silêncio, e muitos passam por amalucados, por essas manifestações exteriores de motilidade gesticulatoria automática.

Expansivos e alegres entregam-se aos desportos, às aventuras amorosas, aos folguedos públicos, e quando jogam cartas, ou qualquer brinco que lhes prendam a atenção são brigosos, rixentos, discutidores impenitentes, enfim, maus parceiros. Os gesticuladores são de fáceis risos, também se irritam com facilidade, porém tudo passa com rapidez, de acordo com a mutabilidade de humor. Linguareiros impenitentes, possuem a volúpia da palavra e do gesto, pois conversam e recontam factos e sucessos com especial carinho. Há vários matizes psicológicos a respeito dos gesticuladores, que são habitualmente falantes, prosistas e fantasiosos. Uns resumem o tipo de “Tartarin”, outros o “Tio Scipião” alguns são queixotescos, fanfarrões e gaiatos.

As mulheres levam as palmas nas palavras e no gesto, a este respeito os homens não as vencem, se é que eles as sobrepujam em qualquer terreno.

Há raças, idades, condições educativas, que tornam tais caracteres mais salientes. Os latinos são mais expansivos, gesticuladores e parlantes do que os anlgo-saxões, os jovens mais do que os velhos, as mulheres mais do que os homens, os bem-educados, os frequentadores dos meios cultos, menos do que os “burgueses” e as pessoas do povo.

Disse um grande mestre da psicologia contemporânea que “a ideia é acto nascente”. Nos gesticuladores e palreiros/tagarela as ideias transformam-se rapidamente em sucesso e palavras, e a grande motilidade dos membros, por circulo vicioso, excita e aumenta a ideação a ponto de se tornarem os gesticuladores e chocalheiros, intermináveis em suas palestras e narrativas.

A polarização do espírito opera-se por contraposições: discretos e indirectos, alegres e taciturnos, cometidos e gesticuladores, risonhos e melancólicos. Desse contraste nasce a harmonia da existência que constitui a paisagem curiosa para os estudiosos, em que analises e confrontos fazem da alma humana o próteo milenar indecifrável.

*Por Joaquim Carlos

(Jornalista C.T.E. nº. 525)

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