2.04.2012

Entrevista que o Diário de Aveiro não publicou


Entrevista que o Diário de Aveiro não Publicou

- Recorde como surgiu esta associação.
Esta associação surgiu em forma de Projecto a partir do dia 9 de Outubro de 2006, após o Hospital Infante D. Pedro de Aveiro ter deixado de fazer colheitas de sangue, cujo epicentro foi no decorrer de uma iniciativa no dia 6 daquele mesmo mês, no Salão das Florinhas do Vouga. Teve como fundador a pessoa que dá esta entrevista, dador de sangue desde 18-08-1977, detentor do CNDS com o nº. 128718, aliás, altura em que fui expulso do local onde decorria a referida colheita de sangue, pela Dra. Ana Marques, Técnica Superior do IPS, Delegação de Coimbra. A sua designação foi aceite no RNPC de Lisboa, com o nº. 59852, datada com o dia 22-11-2006.
Não deixam de ser recordações amargas, que permanecem bem vivas tendo provocado alguns danos psicológicos, que ainda hoje evito falar, pela simples razão que ninguém fez nada em prol dos dadores de sangue até então, embora já existisse um grupo de jet set envolvido nesta actividade.
- Proceda a um balanço destes cinco anos.
Fazer um balaço destes cinco anos, é desenterrar coisas mais desagradáveis do que agradáveis, embora tenham sido concretizados alguns objectivos. É verdade que neste curto espaço de tempo conseguimos um espaço para a Sede, outro para o Posto Fixo onde decorrem 4 colheitas de sangue por mês e onde nos reunimos.
Tudo isto graças ao apoio da Câmara Municipal de Aveiro, ao Hospital Infante D. Pedro, a empresas como a PT Inovação, Galp energia, Matos e Filhos, entre muitas outras. Quanto a resultados desde Dezembro de 2006, até Dezembro de 2011 registamos 6.900 dádivas aprovadas, 2.230 dadores suspensos, traduzindo-se assim num total de 9.130 adesões á dádiva de sangue, sem contabilizar os dadores excluídos. Podíamos ter ido mais longe, feito mais se fomos apoiados por quem de direito, isso não aconteceu.
- Como será a cerimónia de comemoração do 5º aniversário?
Este aniversário é comemorado num ambiente infeliz, não só pela conjuntura socioeconómica que o país atravessa, também por outras razões que são sobejamente conhecidas. Continuamos impedidos de promover colheitas de sangue nas restantes Freguesias que compõem geograficamente o Concelho de Aveiro, por imposição de uma associação sediada num concelho limítrofe, que apenas pretende lá ter os dadores de braço estendido.
Apesar de tudo contamos ter presentes diversas entidades, para além dos nossos associados e empresas parceiras na cerimónia de partilha do bolo de aniversário, a festa é naturalmente nossa, tudo isto só possível com o apoio da Pastelaria Veneza e do Pingo Doce de Aveiro, quanto ao resto é nem sequer falarmos.
- Refira o actual número de sócios.
Neste momento a ADASCA conta com cerca de 2.754 dadores associados de pleno direito, mais de metade com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos.
- Qual o perfil do dador aveirense?
Não é fácil traçar o perfil do dador aveirense. Sem crer generalizar não é carne nem é peixe, nunca sabemos quando podemos contar com ele no Posto Fixo, embora tenhamos dadores que nos acompanham desde o inicio desta associação. Uma boa percentagem deles vai efectuar a sua dádiva noutras brigadas não promovidas pela ADASCA, mas, quando é para solucionar problemas do seu interesse sabe que pode contar connosco. No Posto Fixo recebemos colegas das mais diversas localidades do distrito de Aveiro, até mesmo de Mira por estranho que pareça.
- Com quantas entidades mantêm protocolos?
Presentemente mantemos protocolos com 28 entidades, na sua maioria a prestar serviços em diversas áreas da saúde e ensino. O último protocolo assinado foi com a Habicuidados, empresa aveirense especializada em apoio domiciliário.
Para os que não sabem, além dos dadores nossos associados (que não pagam cotas ou jóias) serem os principais beneficiados são também extensíveis aos familiares mais directos destes. Nós cremos o melhor para os nossos associados.
- Como tem sido a evolução do número de dádivas nos últimos tempos?
Comparando com as datas do ano transacto referente ao mês de Janeiro os resultados ficaram aquém do que era previsto, apenas registamos um total 179 inscrições, destas resultaram 126 dádivas aprovadas, 49 suspensões e 3 eliminados definitivamente. Se tivermos em conta as condições que a ADASCA proporciona aos dadores no seu Posto Fixo, a adesão deveria ser superior, como sabe o dador é soberano, só efectua a dádiva de sangue quando entende que o deve fazer.
- Existem motivos de preocupação relativamente à satisfação das necessidades dos hospitais?
Claro quer sim, pelo que nos é dado saber com o envelhecimento dos dadores regulares, a tendência é para uma redução substancial de dádivas nos próximos anos, o que irá reflectir-se nas necessidades dos hospitais, deixando-nos seriamente preocupados na medida em que o sangue é necessário todos os dias, além do mais vem ai o Carnaval, Pascoa e as férias grandes, períodos mais críticos para a adesão.
- como considera que o actual Governo tem vindo a tratar os dadores?
Sem crer generalizar, com base no conteúdo das queixas que nos são transmitidas, o Serviço Nacional de Saúde continua a não respeitar os dadores de sangue, mas não os dispensa, é difícil entender isto, é uma verdade cruel. O dador de sangue não tem o rei na barriga como se ouve dizer por ai, ele é um cidadão saudável, solidário, altruísta, dá a quem nem sequer conhece o que o seu corpo produz: dar sangue é dar vida, só assim é possível que outros continuem a viver.
- Como vê o corte nas isenções das taxas moderadoras? Pensa que o Governo poderá voltar atrás nessa decisão?
Há uns dois anos atrás já se ouvia comentários que os dadores iam ficar sem as isenções das taxas moderadoras, eu escrevi sobre este assunto neste jornal. Fui classificado pelos meus colegas como maluco, não sabia do que falava, isso jamais podia acontecer. O que têm agora a dizer esses senhores? Pouco ou nada, resignaram-se, recolheram ao convento para se penitenciarem.
O Decreto –Lei nº.113/200, de 29 de Novembro veio esmagar o resto, ou seja, se o dador já dava lucro ao Ministério da Saúde, com esta medida tem que dar ainda mais lucro. Tiram-nos o sangue com uma mão e com outra o dinheiro da carteira.
A Circular Normativa nº. 8/2012 de 19 de Janeiro veio alterar o que anteriormente tinha sido publicado pela Administração Central de Sistema de Saúde.
Os dadores apenas estão isentos nos Centros de Saúde, desde que efectuem duas dádivas nos últimos 12 meses, incluindo os candidatos à dádiva impedidos temporária ou definitivamente de dar sangue desde que tenham efectuado 10 ou mais dádivas válidas. Estamos perante uma lei ignóbil, iníqua que só visa o lucro, não fosse o senhor ministro da saúde economista, colocou a sua generosidade como dador de lado.
- Como é que acha que a ADASCA é vista pela comunidade aveirense? Sente que o seu trabalho tem vindo a ser devidamente reconhecido?
Uma boa percentagem da comunidade desconhece que existe uma associação de dadores no Conselho de Aveiro, como também nem sequer sabe onde funciona, apesar das campanhas intensas que têm sido desenvolvidas. Estou convencido que a ADASCA não é bem vista pelos aveirenses, não tanto pela sua missão na área da saúde, mas sim pela pessoa que a fundou com a agravante de ser presidente da direcção. Esta associação tem provocado alguma inveja, está tornar-se apetitosa para alguns.
O reconhecimento público pelo trabalho que tem desenvolvido ao longo destes anos, ainda não deu sinais vitais para serem devidamente avaliados, nem sequer estou preocupado com isso, estou mais preocupado com o desconforto que me invade pelo corte nas isenções das taxas moderadoras e em manter a confiança dos dadores nesta associação, na certeza de que sempre tiveram alguém que se preocupou com eles, e assim irá continuar, apesar dos 6 anos já dedicados a tempo inteiro a esta causa.
Por estranho que pareça, há mais interessados em destruir esta associação do que apoiá-la, a falta de apoios financeiros são disso uma prova evidente. Como disse, a ADASCA está a tornar-se numa associação apetitosa. Os interessados em saber mais sobre esta associação podem aceder ao site: www.adasca.pt. Vamos entrar num processo de eleições para novos órgãos sociais, nem sequer ainda pensei em o que vou decidir.
NB: Sempre pensei que o Diário de Aveiro (único existente no Concelho de Aveiro) tivesse a amabilidade de publicar esta entrevista na íntegra na sua edição de 4 de Fevereiro, ainda que certas perguntas não configurem extactamente uma entrevista directa. Não o fez, mas, considerando o seu elevado interesse público, a mesma é dada a conhecer neste e no Blog: aveiro123-portaaberta.blogspot.com

Joaquim Carlos
Fundador/Presidente da Direcção da ADASCA
Aveiro, 31 de Janeiro de 2012

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