3.01.2014

Desagrado de um ex-funcionário do IPST

Desagrado de um ex-funcionário do IPST


Ex.º Senhores,

Fiquei muito desapontado com a notícia que acabei de ver em vários telejornais e de ler em alguns jornais. "O apelo a dádiva de sague", feito pelo presidente do Instituto Português do Sangue a da Transplantação, o Sr. Professor Hélder Trindade.

Face a algumas inverdades, achei por bem repor a verdade. É verdade que efectivamente as dádivas de sangue baixaram muito este ano, principalmente a partir do dia 1 de Janeiro de 2014, ele veio dizer que era por causa da gripe, da emigração e do mau tempo, mas esqueceu-se de falar do cancelamento e adiamento de recolhas de sangue, que cada centro do IPST está obrigado a fazer por falta de recursos humanos, a perda da isenção das taxas moderadores que foram cortadas aos dadores de sangue nos hospitais é uma das causas principais.

Neste momento por exemplo, vários carros e autocarros estão parados porque não têm motoristas para os conduzir, e estão a alugar autocarros a rodoviária (cerca de 300€ cada um) diariamente. Sendo ao fim de semana o ponto mais forte onde por vezes alugam mais de 15 autocarros, sem condições nenhumas de transporte de sangue.

Em Setembro de 2013 o presidente do instituto veio ter uma reunião com os funcionários contratados, onde foi dito que ninguém iria ser despedido dos centros regionais, veio apelar também ao esforço destes mesmos contratados, para fazerem, mais e melhor, (sem mais nenhumas regalias), e em dezembro despediram cerca de 80 funcionários.

Em janeiro de 2014, pediram a vários funcionários, estes a recibo verdes, para irem trabalhar sem saber se iriam receber o ordenado, porque ainda não tinha chegado a autorização, estão a subcarregar todos os funcionários que lá continuam fazendo muito mais horas do que o normal, fazer turnos seguidos, exigir que efetuem tarefas que não fazem parte das carreiras.

Despediram também vários administrativos e agora desde o início deste ano contrataram mais uma empresa que esta a fazer o trabalho desses administrativos que foram despedidos, essa empresa só esta a contactar os dadores de sangue através de chamadas e mensagens para irem dar sangue, essa empresa tem acesso a dados confidenciais de cada dador, identificam-se como Instituto Português do Sangue e da Transplantação, esta empresa custa 18 mil euros por mês, dito pelo próprio presidente numa das reuniões que teve com os trabalhadores que agora despediu a pedir nessas reuniões para nos esforçarmos ao máximo para continuarmos na instituição.

Todos os funcionários que foram despedidos tinham horas a mais que nunca pagaram, tinham dias de férias por gozar, mais uma vez dito pelos chefes dos serviços que se não marcássemos as férias que as empresas nos iam pagar, coisa que a partir de agosto de 2012 deixou de acontecer, etc., etc., etc.

Eu próprio fui despedido no dia 31 de dezembro com a promessa, feita por esse senhor professor, de que seria só por alguns dias, e já la vão quase 3 meses. A falta de recursos humanos já fez faltar sangue nos hospitais e várias operações que tiveram de ser adiadas. Há um funcionário dessa instituição a 10 anos entraram para o IPST no dia 1 de setembro de 2003 com um contrato de três meses mais três meses, renovável ate 2 anos, não tendo assinado mais nenhum. No mês de agosto de 2007 foi pedido a todos os funcionários contratados que assinassem por empresas de trabalho temporário por apenas 3 meses e que em janeiro de 2008 iria abrir um concurso para legalizar a situação de todos.

Ninguém aceitou essas condições, porque deixavam de pagar horas que fazíamos a mais, ajudas de custo, etc., e, estavam a pagar a uma empresa de trabalho temporário dois ordenados e meio a mais do que aquilo que nos pagavam a nos. O presidente na altura pediu encarecidamente para aceitar estas condições porque o instituto precisava de nos, senão aceitássemos o instituto tinha de parar as recolhas facto que esta acontecer neste momento.

E ficamos com esses contratos até dezembro de 2013, só fomos despedidos porque o tribunal de contas chumbou o pagamento a essas empresas de trabalho temporário (Acórdão N.º 28 /2013, de 14 novembro), dizendo que não eramos assim tão temporários como isso uma vez que já la estávamos a mais de 2 anos a tempo inteiro e que ficava muito mais caro ao instituto pagar as empresas do que fazer contratos diretamente entre os funcionários e a instituição.

O Sr. presidente Hélder Trindade veio mais uma vez dizer que era uma situação provisória, então tentaram nos voltar a chamar através do centro de emprego com um contrato de emprego e inserção de trabalho o qual o centro de emprego disse que só podiam ser chamados funcionários que não tinham trabalhado para la no último ano, então o IPST cancelou o pedido destes contratos, porque queriam os mesmos funcionários que despediram. Gostaria mesmo muito de tornar isto púbico, para repor toda a verdade sobre o apelo a dádiva de sangue feito pelo presidente deste instituto.

Comentários: o autor deste texto foi funcionário no referido instituto, ali exerceu funções durante 10 anos, conforme declarações suas, por recear represálias, optou por não fornecer elementos de identificação.
É lamentável que se respire uma atmosfera de medo num País que conheceu um golpe de estado há 40 anos e, que a partir dai toda a gente diz, que se vive em democracia, liberdade de pensamento, de expressão.
Se foram despedidos funcionários, houve necessidade de reduzir o número de brigadas, logo, os resultados reflectem-se nas dádivas de sangue recolhidas. Não se faz omelete sem quebrar os ovos, ou será que sim?

Artigo 37.º
Liberdade de expressão e informação


 1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.
3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos princípios gerais de direito criminal ou do ilícito de mera ordenação social, sendo a sua apreciação respectivamente da competência dos tribunais judiciais ou de entidade administrativa independente, nos termos da lei.
4. A todas as pessoas, singulares ou colectivas, é assegurado, em condições de igualdade e eficácia, o direito de resposta e de rectificação, bem como o direito a indemnização pelos danos sofridos. sic

Será que a Constituição da República Portuguesa passou a ser um livro de conto de fadas ou narrativas? Pior ainda: um livro de romance? Pelo que nos é dado observar, o medo de falar, está de novo instalado nas instituições do Estado, sim, as tais que são suportadas pelos impostos de todos nós. Sinto-me profundamente incomodado com o que estamos a assistir, sem que ninguém com funções governativas assuma a responsabilidade pelas decisões que são tomadas no conforto dos seus gabinetes.

Esta atmosfera bafienta, com suspiros de Salazarismo tem que ser erradicada o mais rapidamente possível, não podemos ficar de braços cruzados. Malditos cravos, aqueles que foram colocados no cano das espingardas G3.

Acorda POVO enquanto é tempo.

Postado por Joaquim Carlos


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